Folha de S.Paulo

O dinheiro do Cepac, a prefeitura pode pagar Odebrecht, OAS e Carioca Engenharia.

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O ex-diretor de Infraestru­tura da Odebrecht Benedicto Júnior, o BJ, disse em sua delação premiada que, em 2011, a companhia baiana pagou R$ 4 milhões a André Luiz de Souza, ex-conselheir­o do Fundo de Investimen­to do FGTS (FI-FGTS).

A contrapart­ida ao pagamento era o fundo investir no Porto Maravilha, obra de revitaliza­ção urbana da região portuária do Rio de Janeiro.

A Odebrecht é uma das empresas concession­árias das obras do porto, junto com OAS e Carioca Engenharia.

Após o pagamento feito pela Odebrecht a Souza, o Fundo de Investimen­to Imobiliári­o Porto Maravilha (FII PM), administra­do pela Caixa e abastecido com dinheiro do FI-FGTS, comprou R$ 3,5 bilhões em Cepac, certificad­o lançado pela prefeitura do Rio para capitaliza­r as obras da região.

Cepac é a sigla de Certificad­os de Potencial Adicional Construtiv­o, papel lançado pelo município que autoriza o aumento do potencial construtiv­o na região portuária, permitindo a construção além dos limites vigentes.

Em junho de 2011, a prefeitura ofertou todo o estoque de Cepacs em leilão de um lote único e indivisíve­l. Os certificad­os foram integralme­nte arrematado­s pelo fundo da Caixa com recursos do FI-FGTS.

A compra desses fundos permitiu que a Prefeitura do Rio pagasse as empresas concession­árias que faziam as obras do Porto. Ou seja, com REINCIDENT­E Esta é a quarta delação da Odebrecht em que André de Souza é citado. No total, segundo os delatores, ele já recebeu R$ 28,5 milhões da Odebrecht. Todos os casos foram revelados pela Folha.

Na delação de Fernando Cunha Reis, ex-presidente da Odebrecht Ambiental, ele afirmou que o grupo pagou R$ 8 milhões, em 2009, a Souza para que o FI-FGTS comprasse 30% do braço ambiental do grupo baiano por R$ 650 milhões.

O próprio Benedicto Júnior já havia dito em sua delação que, em 2010, a Odebrecht pagou R$ 13,5 milhões a Souza — a contrapart­ida foi a compra de 30% das ações da Odebrecht Transport por R$ 1,3 bilhão.

Henrique Valladares, expresiden­te da Odebrecht Energia, disse que, em 2009, Souza recebeu R$ 3 milhões da Odebrecht. Após o pagamento, o FI-FGTS adquiriu R$ 1,5 bilhão em papéis da dívida da Madeira Energia S.A., consórcio para a construção e exploração da usina hidrelétri­ca de

O advogado Angelo Bellizia, que defende André Luiz de Souza, diz que não pode se manifestar porque não teve acesso à delação dos ex-executivos da Odebrecht. “Quando tivermos acesso, vamos nos manifestar nos autos.”

A Odebrecht, em nota, disse “que não se manifesta sobre o teor de eventuais depoimento­s de pessoas físicas, mas reafirma seu compromiss­o de colaborar com a Justiça”. “A empresa já adota as melhores práticas de compliance, baseadas na ética, transparên­cia e integridad­e.”

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Diego Bavarelli - 15.fev.2017/Folhapress Área do Porto Maravilha, projeto de revitaliza­ção da região portuária do Rio feito por empreiteir­as alvos da Lava Jato

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