Folha de S.Paulo

Ataques a igrejas cristãs deixam pelo menos 44 mortos no Egito

Facção terrorista Estado Islâmico reivindica autoria de ataques a bomba no Domingo de Ramos

- DIOGO BERCITO GRÉCIA TURQUIA CHIPRE ISRAEL Tanta Alexandria LÍBIA CHADE Cairo SUDÃO SÍRIA LÍBANO JORDÂNIA ARÁBIA SAUDITA

Governo decreta estado de emergência por três meses, que deve facilitar detenções e proibir protestos

Duas explosões em igrejas egípcias mataram ao menos 44 pessoas e feriram mais de cem durante as celebraçõe­s do Domingo de Ramos (9), semanas antes da visita do papa Francisco ao país.

A organizaçã­o terrorista Estado Islâmico reivindico­u as ações por meio de um de seus canais oficiais e prometeu intensific­ar a violência, desafiando a habilidade do governo de proteger a principal minoria religiosa do país.

O presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, decretou estado de emergência de três meses. A medida não foi detalhada, mas deve facilitar detenções e proibir protestos. O Parlamento precisa aprovar a sua implementa­ção.

O primeiro ataque deixou ao menos 27 mortos e 78 feridos na igreja de Mar Girgis, em Tanta, 90 km ao norte do Cairo, no delta do Nilo.

Um homem-bomba explodiu em seguida diante da catedral de São Marcos, em Alexandria, na costa mediterrân­ea, vitimando ao menos 17 pessoas e ferindo outras 48.

O patriarca Tawadros, líder da igreja egípcia, estava no edifício atacado em Alexandria, mas não se machucou. “Esses atos não irão ferir a unidade do povo”, disse.

Imagens de Tanta mostram os bancos da igreja ensanguent­ados entre fumaça. Alguns corpos estão no chão, cobertos por papel.

Mar Girgis é o nome dado no Egito a São Jorge. Os coptas são o ramo egípcio do cristianis­mo, uma igreja cristã ortodoxa, e correspond­em a cerca de 10% da população de mais de 90 milhões.

Apesar de os atritos no dia a dia serem raros, houve outros episódios de violência sectária durante os últimos anos.

Os ataques se tornaram mais comuns depois da queda do presidente islamita Mohammed Mursi, que representa­va a Irmandade Muçulmana. Islamitas culpam cristãos por terem apoiado o golpe militar de 2013.

O EI, que assumiu um ataque contra outra igreja copta em dezembro de 2016, com 25 mortos, havia voltado a ame- açar cristãos em um comunicado divulgado em fevereiro.

Essa milícia radical, baseada na Síria e no Iraque, tem um importante braço no norte do deserto do Sinai.

Dezenas de cristãos deixaram o Sinai em fevereiro após uma onda de assassinat­os por essa organizaçã­o.

O ataque à igreja aumentará a pressão para que o presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, incremente a segurança e impeça novos atentados. Ele anunciou que soldados vão auxiliar a polícia na proteção de locais em risco, uma medida rara.

Há receio entre ativistas de que isso leve a um recrudesci­mento ainda maior no país, onde as liberdades individuai­s têm minguado, segundo organizaçõ­es de defesa dos direitos humanos.

Sisi afirmou, no domingo, que atentados terrorista­s “não vão sabotar a determinaç­ão e a vontade verdadeira do povo egípcio de combater as forças do mal”.

O presidente americano, Donald Trump, afirmou ter “confiança de que o presidente Sisi irá lidar com a situação da maneira adequada”. Trump recebeu Sisi na Casa Branca na semana passada.

Cristãos egípcios não enfrentam apenas a violência de grupos radicais islamitas. Ativistas acusam também o governo de discriminá-los.

Tribunais condenam coptas com base em um artigo do Código Penal que pune a blasfêmia. Foram três casos em 2011, ano da revolução que derrubou o então ditador Hosni Mubarak. Em 2015, já no governo Sisi, foram 21.

Um dos casos mais emblemátic­os dos últimos anos é o dos adolescent­es condenados a cinco anos de prisão por gravar um vídeo ridiculari­zando o EI —o que foi considerad­o desrespeit­o ao islã.

Os jovens dizem que estavam criticando a facção terrorista, no vídeo, por ter matado 21 cristãos egípcios trabalhand­o na Líbia, em 2015.

 ?? Mohamed Abd El Ghany/Reuters ?? Igreja cristã copta atingida por ataque a bomba em Tanta, no Egito; Estado Islâmico declarou guerra aos coptas e sugere que sejam atacados “sempre”
Mohamed Abd El Ghany/Reuters Igreja cristã copta atingida por ataque a bomba em Tanta, no Egito; Estado Islâmico declarou guerra aos coptas e sugere que sejam atacados “sempre”
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil