Folha de S.Paulo

ANÁLISE Acuado na Síria e Iraque, EI mira em minorias em outros países

- PATRÍCIA CAMPOS MELLO

O “califado” do Estado Islâmico não para de encolher. Diante da aliança entre tropas curdas, árabes e bombardeio­s aéreos liderados pelos Estados Unidos, os extremista­s perderam 60% do território que controlava­m no Iraque e 30% na Síria.

A facção enfrenta simultanea­mente uma ofensiva em Mossul, última grande cidade sob seu poder no Iraque, e avanço em direção a Raqqa, “capital” do califado na Síria.

Forças iraquianas já liberaram a parte leste de Mossul e agora atacam o oeste, mais populoso e mais difícil de liberar. Mesmo assim, analistas acreditam que, até o final do ano, estará livre do EI.

O Estado Islâmico perdeu grande parte da receita que obtinha vendendo petróleo no mercado negro, porque a coalizão bombardeou muitos dos poços sob seu controle.

Hoje, os extremista­s de- pendem de extorsão e impostos para se financiar. Mas também essa fonte de recursos está secando porque caiu o número de “governados” pelo EI. O grupo, que no apogeu em 2015 chegou a ter 10 milhões de pessoas em seus território­s, agora tem cerca de 6 milhões, segundo o IHS Conflict Monitor.

Acuados, os militantes têm recorrido cada vez mais a ataques midiáticos, que causam muitas mortes, fora das áreas do califado “oficial”, mas on- de mantêm alguma presença. Para preservar sua capacidade de recrutamen­to, eles precisam manter sua aura de “sucesso”.

O EI está presente em 18 países. Em todos, explora tensões sectárias e mira as minorias. Yazidis no Iraque, alauítas na Síria, cristãos na Nigéria, xiitas em vários países, curdos seculares.

No Egito, a insurgênci­a da península do Sinai matou centenas de policiais e soldados egípcios. Em 2015, reivin- dicaram a derrubada de um avião da Metrojet que matou mais de 200 passageiro­s em voo para a Rússia.

Mas desde dezembro do ano passado, quando um homem-bomba do EI matou 29 em uma igreja no Cairo, declarou guerra contra os cristãos coptas. Em fevereiro, um vídeo do EI conclamava seus seguidores a matarem cristãos coptas, descrevend­o-os como “sua presa favorita”.

“Os coptas devem ser atacados sempre que possível e em todo lugar, e o EI vai liberar o Cairo, bombardear a capital e libertar prisioneir­os.”

Naquele mês, centenas de coptas fugiram de suas casas no Sinai depois de uma campanha de assassinat­os orquestrad­a pelo EI.

O EI explora habilmente as divisões sectárias no país.

A minoria copta já era alvo de discrimina­ção no Egito. Além disso, os coptas haviam irritado os fundamenta­listas islâmicos ao apoiarem o golpe que derrubou o governo islamista de Mohamed Morsi, em 2013, e que levou ao poder o atual presidente, Abdel Fattah al-Sisi.

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