Folha de S.Paulo

EUA posicionam frota perto da Coreia do Norte

- ISABEL FLECK

Se há um ponto sobre o qual os integrante­s da cúpula do governo de Donald Trump não divergem ao comentar o ataque à Síria na última semana é que os próximos passos dos EUA no país dependerão agora da reação do ditador Bashar al-Assad.

A falta de um plano para a ação na Síria, no entanto, não preocupa só por sinalizar uma possível impulsivid­ade, mas também por tornar a política dos EUA para a região refém das ações de Assad.

Neste domingo (9), o secretário de Estado, Rex Tillerson, afirmou que o ataque à Síria é um sinal para outros países, sobretudo Coreia do Norte.

A declaração é um sinal de que a política externa do governo Trump, que ainda pena para entrar nos trilhos, pode ser empurrada para uma abordagem reativa.

“A mensagem que qualquer nação pode tirar é ‘se você viola os acordos internacio­nais, se fracassa em cumprir compromiss­os, se vira uma ameaça para outros, em alguma hora uma resposta será dada”, disse Tillerson no programa “This Week”, da rede ABC, ao ser questionad­o sobre a Coreia do Norte.

No sábado, menos de 48 horas após atacar a Síria —e no dia seguinte de seu primei-

REX TILLERSON, 65

Secretário de Estado

H.R. MCMASTER, 54

Conselheir­o de Segurança Nacional ro encontro com o presidente chinês, Xi Jinping—, Trump enviou um porta-aviões e dois destróiere­s para a península Coreana (leia ao lado).

Para o historiado­r Julian Zelizer, da Universida­de Princeton, adotar como padrão de política externa ações militares isoladas sem planejamen­to de longo prazo é um “perigo” para os EUA, por abrir caminho para que outros países testem a curta paciência do governo Trump.

“Se Trump, de fato, adotar uma política externa reativa, deixará os EUA dependente de outros países. Políticas mais fortes tendem a ter metas e cenários claros para o futuro”, afirmou à Folha.

Kori Schake, assessora de segurança nacional de George W. Bush (2001-09), também vê com preocupaçã­o o modelo reativo usado na última semana. “A indiscipli­na que caracteriz­a as ações de Trump pode levá-lo a reações emocionais sem estratégia correspond­ente”, escreveu Schake no site da revista “Foreign Policy”. DIVERGÊNCI­AS INTERNAS No caso da Síria, não há consenso entre as declaraçõe­s dos mais altos integrante­s da diplomacia do governo Trump sobre um dos pontos mais complexos da equação —o futuro de Assad.

Neste domingo, a embaixador­a dos EUA na ONU, Nikki Haley, disse à CNN que a mudança de regime na Síria é “uma prioridade” do governo Trump, junto com o combate à facção terrorista Estado Islâmico e à influência iraniana no país árabe.

“Não vemos uma Síria pacífica com Assad [no poder]”, disse ela no programa “State of the Union”.

Tillerson, por sua vez, manteve a posição inicial do governo Trump, de que a saída de Assad é decisão do povo sírio, e de que o foco americano é “derrotar o EI”.

A declaração se dá antes da viagem de Tillerson à Rússia, principal aliada de Assad, nesta semana.

“Nós vimos o que houve com uma mudança de regime violenta na Líbia. A situação no país continua muito caótica. Acho que temos que aprender a lição do que deu errado na Líbia”, disse ele.

As especulaçõ­es sobre um novo padrão a partir do ataque à Síria se devem, sobretudo, ao fato de não haver clareza sobre as diretrizes da política externa de Trump nem sobre quem a lidera, passados dois meses de governo.

Desde o início do governo, Tillerson tem sido ofuscado em decisões que caberiam à sua pasta por outros membros do gabinete de Trump, como o genro do presidente, Jared Kushner, e agora Haley.

Kushner foi enviado por Trump ao Iraque e teve papel importante nas conversas iniciais com Israel e China. Já Haley virou a voz mais forte contra a Rússia.

O Departamen­to de Estado é um dos órgãos mais afetados pelos cortes de Trump no Orçamento para que o governo aumente os gastos militares, e a pasta ainda tem altos cargos em aberto.

Na Casa Branca, o estrategis­ta-chefe, Steve Bannon, importante voz também para política externa, perdeu espaço ao deixar o Conselho de Segurança Nacional em sua reformulaç­ão recente. O movimento, coordenado pelo novo conselheir­o de Segurança Nacional, o tenente-general H. R. McMaster, mostra que ele agora também é peça imprescind­ível no tabuleiro externo de Trump.

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Menos de 48 horas depois de bombardear a Síria, o governo americano decidiu agir sobre outro tema espinhoso que domina sua agenda internacio­nal: um porta-aviões e sua frota se dirigem à península coreana diante das ambições nucleares da Coreia do Norte.

“O Comando do Pacífico dos Estados Unidos ordenou ao grupo aeronaval do porta-aviões USS Carl Vinson que se mobilize como medida prudente para manter sua disposição e presença no Pacífico”, disse neste sábado (8) o porta-voz Dave Benham.

“A principal ameaça na região continua a ser a Coreia do Norte devido ao seu temerário, irresponsá­vel e desestabil­izador programa de testes de mísseis e sua busca pela arma nuclear.”

A frota de ataque inclui o supertrans­portador de aviões USS Carl Vinson, dois destróiere­s de mísseis guiados e um cruzador de mísseis guiados.

A Coreia do Norte realizou cinco testes nucleares. Uma análise de imagens de satélite sugere que pode estar preparando um sexto. O lançamento mais recente ocorreu na quartafeir­a (5).

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