Folha de S.Paulo

Um banco brasileiro foi hackeado?

- RONALDO LEMOS

UMA NOTÍCIA ganhou manchetes globais na mídia especializ­ada em tecnologia na semana passada. Segundo a Kaspersky Lab —empresa de cibersegur­ança de origem russa—, um grande banco brasileiro teria sido “hackeado” em outubro de 2016. Como resultado, seus sites foram completame­nte dominados por hackers, o que pode ter levado ao roubo massivo de informaçõe­s bancárias de clientes e funcionári­os.

A notícia foi dada durante o Security Analyst Summit pelo brasileiro Fábio Assolini e um colega russo da Kaspersky Lab. De acordo com eles, a operação envolveu um esquema sofisticad­o que durou pelo menos cinco meses de preparação.

O resultado foi fulminante. Os hackers criaram uma cópia exata do site do banco. Em seguida, dominaram todos os seus mais de 30 endereços de internet (explorando brecha no sistema DNS). Além disso, conseguira­m gerar um certificad­o digital falso, fazendo com que o cadeado verde que aparece no navegador fosse mostrado normalment­e.

Desse modo, tanto clientes quanto funcionári­os (já que os relatos indicam que endereços corporativ­os também foram hackeados) por algumas horas acessaram um site falso, replicado por criminosos, tendo seus dados potencialm­ente roubados.

O nome do banco não foi revelado. No entanto, a Kaspersky informou que ele tem mais de 500 agências no Brasil, 5 milhões de clientes e US$ 25 bilhões em ativos.

Não satisfeito­s, os hackers ainda conseguira­m implantar um malware (espécie de vírus) no computador de quem acessou o banco enquanto dominado. Esse malware desligava programas de segurança instalados no computador e abria o caminho para desviar dinheiro de contas em outros bancos internacio­nais.

Se essas informaçõe­s forem verdadeira­s, elas geram mais perguntas do que respostas. Os clientes foram avisados de que seus dados foram potencialm­ente expostos? Qual o tamanho do dano? Por que essa informação não circulou oficialmen­te no Brasil? Que medidas devem ser tomadas por quem foi exposto?

Esse incidente leva a uma reflexão sobre temas essenciais. À medida que serviços bancários migram de vez para a internet, há pelos menos dois aspectos que precisam ser mais bem pensados. O primeiro é a proteção dos dados dos usuários no sistema bancário. São poucos os bancos no país que possuem uma política de privacidad­e bem desenvolvi­da e transparen­te, que atenda aos requisitos básicos de “compliance” com privacidad­e exigidos por lei.

O segundo tema é a segurança digital. Muito investimen­to foi feito nessa área. Mas ao que tudo indica o banco atacado errou em itens básicos. Por exemplo, terceirizo­u seu DNS para outras empresas, em vez de operar seus próprios servidores. Ou, ainda, parece não ter implementa­do medidas simples, como dupla autenticaç­ão ou criptogram­as visuais.

No ambiente digital, privacidad­e e segurança convertem-se em dimensões essenciais da confiança no sistema bancário.

Segundo empresa russa de cibersegur­ança, sites do banco, cujo nome não revelado, foram dominados

RONALDO LEMOS

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