Folha de S.Paulo

Intimidade pode custar caro na hora de emprestar nome

Em 12 meses até março, 17% dos que ficaram inadimplen­tes caíram na lista suja por terem ajudado amigos e parentes

- DANIELLE BRANT

Só em 3,4% dos casos o débito foi totalmente pago; especialis­tas recomendam cautela na hora de emprestar

Ajudar amigos ou parentes a pagar um dívida pode custar caro. Nos últimos 12 meses até março, 17% dos consumidor­es que ficaram com nome sujo entraram na lista de inadimplen­tes ao pegar empréstimo para conhecidos, segundo levantamen­to do birô de crédito SPC Brasil obtido com exclusivid­ade pela Folha.

A boa vontade pode custar caro: só em 3,4% dos casos a dívida foi totalmente paga. Por outro lado, 41,2% dos que emprestara­m o nome ficaram a ver navios e tiveram que arcar com o prejuízo —em média, de R$ 1.215,24.

Foi o caso da funcionári­a pública S.G.C., 41, de Cuiabá (MT), que pediu anonimato. Ela emprestou dinheiro para um amigo comprar um carro. A aquisição ocorreu, mas o amigo não fez seguro para o veículo, que foi roubado.

O amigo, então, parou de pagar as prestações do veículo, e a funcionári­a pública foi incluída no cadastro de inadimplen­tes. Para limpar o nome, ela negociou um empréstimo em 36 vezes com a mesma financeira. “Para mim, não faz mais diferença, é uma pessoa que não pode mais contar comigo. Não vou mais emprestar o nome”, diz.

Amigos são justamente os primeiros a contar com a solidaried­ade alheia, de acordo com o levantamen­to: 30,9% dos que emprestara­m o nome tiveram problemas com esses colegas mais próximos.

Mas a família também aparece “bem posicionad­a” no ranking: 21,8% dos “negativado­s” contraíram dívida para irmãos e irmãs, e 17,9%, para outros parentes. Pais e mães representa­m 11,7%.

“A gente vê que sempre tem uma ligação emocional envolvida nesses empréstimo­s”, diz Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil.

“Quem empresta acaba não pensando direito e muitas vezes não sabe qual o valor gasto. Intimidade nessa hora pode fazer mal, tanto para quem pega emprestado quanto para quem empresta.” O QUE FAZER Antes de emprestar o nome, é preciso considerar alguns pontos, alertam especialis­tas. O primeiro deles é que a dívida é de quem toma o crédito, afirma Gustavo Gonçalves Gomes, sócio do escritório Siqueira Castro.

“Não dá para transferir a dívida. Para o banco, o responsáve­l pelo pagamento das parcelas é quem contratou o empréstimo”, afirma. Isso significa que o inadimplen­te pode ser acionado judicialme­nte para pagar a dívida.

Uma forma de minimizar o dano é firmar um contrato com a pessoa para quem o consumidor vai repassar o dinheiro ou pegar alguma garantia, como veículo.

Manter um distanciam­ento também ajuda. “Quem pediu o nome emprestado provavelme­nte está com o nome sujo na praça. Não adianta confiar em alguém que tem um histórico de que não consegue lidar com o próprio dinheiro”, diz Kawauti (SPC).

Para não deixar o outro desassisti­do, há alternativ­as, sugere. O consumidor pode, por exemplo, ir ao supermerca­do e fazer compras para quem pede dinheiro ou tentar arrumar um emprego para essa pessoa. “Dar um cheque em branco não ajuda e ainda pode fazer você perder o amigo.”

Na pesquisa, 69% dizem que o relacionam­ento ficou abalado após o problema que levou ao nome sujo. Calote de amigos e parentes explica dos nomes sujos no país Querem ajudar Pena Tiveram vergonha de negar Ficaram com medo de magoar Não tem dinheiro Desaparece­u e não há como cobrar Vai pagar quando arrumar emprego ou tiver aumento Brigou e disse que não vai pagar Outro Não sei

é o valor médio que os consumidor­es precisaram desembolsa­r para pagar dívidas de terceiros

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