Folha de S.Paulo

Filme revela vida e truques de polêmico coreógrafo israelense Ohad Naharin

- IARA BIDERMAN

FOLHA

Gente linda dançando muito, música boa, segredos de bastidores, um coreógrafo polêmico e arredio à entrevista­s. “Gaga – O Amor pela Dança” já tinha tudo para dar certo entre os amantes da arte do movimento e mesmo assim entrega mais.

O documentár­io de Tomer Heymann sobre Ohad Naharin, diretor artístico da companhia Batsheva, de Tel Aviv, e criador da técnica de dança que dá nome ao longa, funciona até para quem não tem ideia de quem seja esse tal “Senhor Gaga” (“Mr. Gaga” é o título original).

A técnica gaga é uma série de desafios propostos ao bailarino para que ele “ouça” seu corpo, entenda tensões e limites, o jogo entre esforço e prazer, e improvise a partir disso.

Naharin é quase um personagem de ficção —criado por ele mesmo— que advoga e realiza uma dança carregada de verdade, extraída dos bailarinos a ferro, fogo e afagos, como mostram as cenas de ensaios ou os depoimento­s de colegas e ex-colegas dele.

As verdades e mentiras contadas por Naharin sobre sua vida são entremeada­s por cenas de suas famosas coreografi­as e imagens de arquivo da infância no kibutz, dos anos de serviço militar, das aulas de balé ao lado de Rudolf Nureyev em Nova York.

Heymann vai criando camadas de narrativas e dando corda para o bailarino que supostamen­te esnobou Martha Graham e Maurice Béjart e “roubou” a primeira-bailarina do coreógrafo americano Alvin Ailey, Mari Kajwara.

É mais ou menos nessa parte do filme —quando Naharin é ainda um jovem artista cheio de ideais lutando para vencer em Nova York sem abrir mão de sua liberdade— que o espectador mais ligado em dança sente falta de maiores explicaçõe­s: as diferenças estéticas e ideológica­s que afastaram o bailarino dos nomes mais importante­s da dança não ficam claras.

A curiosidad­e é direcionad­a a outros detalhes: paixões insinuadas por Naharin (ele dá a entender que Graham e Béjart tinham atração mais do que “artística” por ele) e uma grande história de amor.

O caso de Naharin e Kajwara parece feito de encomenda para um best-seller: um casal cheio de diferenças, formado por uma estrela da dança nova-iorquina e o israelense aspirante a grande bailarino que mal conseguia pagar o aluguel e joga tudo para o alto para realizar os sonhos.

Parece clichê, é clichê, mas quem se importa? As imagens do casal dançando junto são tão bonitas que justificam qualquer história.

À camada “vida que parece cinema”, o diretor acrescenta, discretame­nte e com humor, a discussão sobre realidade e ficção na arte.

Naharin é tanto um gênio da dança quanto um mentiroso, e “Gaga – O Amor pela Dança” faz bom proveito das duas facetas do personagem.

Heymann leva o espectador a crer em histórias contadas pelo coreógrafo, como a de que começou a dançar para se comunicar com o irmão gêmeo autista ou que criou sua técnica para se curar de uma lesão (ambas narrativas foram divulgadas como verdadeira­s) para depois revelar, pela boca de Naharin, o truque.

No fundo, como quase tudo na vida e na dança, é uma questão de saber cair e se levantar, algo que a técnica gaga ensina muito bem e as coreografi­as mostradas no longa provam com elegância. DIREÇÃO Tomer Heymann ELENCO Ohad Naharin PRODUÇÃO Israel, 2015 AVALIAÇÃO muito bom

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Robusto e Smurfette em cena de ‘Smurfs e a Vila Perdida’

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