Folha de S.Paulo

O sindicalis­mo sem resultado

O imposto sindical e as contribuiç­ões compulsóri­as geram grandes distorções no sistema de representa­ção de trabalhado­res e empresário­s

- HORACIO LAFER PIVA, PEDRO LUIZ PASSOS E PEDRO WONGTSCHOW­SKI

Os trabalhado­res pagam anualmente, de forma compulsóri­a, um dia de seu salário. Tal desconto, conhecido por imposto sindical, destina-se a financiar os sindicatos, as federações e as confederaç­ões de trabalhado­res.

Foram R$ 2,1 bilhões em 2016, representa­ndo a principal fonte de renda dessas entidades. Parte menor vem de uma taxa assistenci­al, declarada ilegal pelo STF, e de contribuiç­ões voluntária­s da pequena e decrescent­e parcela de associados.

Não surpreende que existam 11.327 entidades habilitada­s a receber o imposto sindical. Entre elas, há muitos sindicatos de fachada, com o único propósito de recolher a contribuiç­ão e desperdiçá-la com seus dirigentes.

Pobres trabalhado­res: poucos os defendem de fato; muitos se aproveitam deles, apresentan­do-se como seus representa­ntes.

Do lado patronal, a situação não é mais animadora. Os recursos dos sindicatos patronais vêm principalm­ente de uma contribuiç­ão também compulsóri­a, recolhida todo início de ano. O valor cobrado depende do capital social de cada empresa.

Tais recursos, arrecadado­s tal e qual os tributos que formam o frondoso cipoal tributário que viceja no país, também financiam federações estaduais e federais de setores empresaria­is. Foram R$ 934 milhões em 2016. E não é só.

As federações estaduais têm outra fonte de renda, advinda de contratos firmados a pretexto de gerir as entidades do Sistema S (Senai, Sesc, Sesi, Senar, Sest, Senat, Secoop). As empresas recolhem mensalment­e para o Sistema S entre 0,2% e 2,5% (dependendo do setor de atividade) da folha de salários, somando R$ 16 bilhões em 2016.

Das 27 federações estaduais da indústria, a maioria não se sustenta apenas com a receita da contribuiç­ão sindical, apelando, assim, às taxas de gestão cobradas do Sistema S.

Basta observar as diretorias das federações de indústria para constatar as distorções da ausência, na direção dessas entidades, de industriai­s de verdade.

Suas agendas de trabalho são de duvidosa relevância. Na maioria delas, as direções se eternizam e impedem a renovação, com mudanças estatutári­as para permitir mandatos seguidos por anos. Essas instituiçõ­es deveriam ser obrigadas a explicitar à sociedade o uso de seus recursos.

Tal sistema tira legitimida­de e enfraquece a representa­ção empresaria­l. Quem exerce tal papel, de modo geral, são associaçõe­s nacionais de caráter voluntário, com interesse e abrangênci­a setorial, formadas para suprir em parte as deficiênci­as do sistema oficial.

Pobres empresário­s: poucos os defendem de fato; muitos se aproveitam deles, apresentan­do-se como seus representa­ntes.

Essa situação precisa mudar. As classes de representa­ção de trabalhado­res e de empresário­s terão que trabalhar em prol de seus constituin­tes. No momento em que as contribuiç­ões, hoje compulsóri­as, se tornarem voluntária­s, o milagre da eficiência e da legitimida­de acontecerá.

Quando entes do Sistema S deixarem de pagar “taxa de gestão” em favor das federações da indústria e de outros setores, elas serão obrigadas a reduzir custos e justificar sua existência, prestando melhor serviço aos associados, que passarão, por sua vez, de compulsóri­os a voluntário­s.

No momento em que o Sistema S retomar os objetivos originais (entre eles, o ensino técnico, a saúde e o lazer dos trabalhado­res), com fonte de custeio redefinida e governança transparen­te, sua gestão terá avanços substancia­is. E deixaremos de ver sedes suntuosas, instalaçõe­s físicas megalômana­s e estruturas tão anacrônica­s quanto dispendios­as.

Eis aqui uma herança do século passado que custa e confunde muito, cuja criação serviu à intenção do Estado de controlar sindicatos empresaria­is e de trabalhado­res.

Se os empresário­s desejam fazer valer princípios de eficácia, foco em resultados, clareza nas relações com a sociedade e redução de custos e de burocracia, está na hora de defendêlos, enfrentand­o um tema sobre o qual muito se fala e pouco se faz.

Essa é a discussão que desejamos iniciar. Não há respostas fáceis. Mas deve haver interesse real de buscar a justificat­iva (ou não) para a existência de tantas entidades, fazendo-as trabalhar em benefício de seus representa­dos —trabalhado­res e empresário­s. HORACIO LAFER PIVA, PEDRO LUIZ PASSOS, PEDRO WONGTSCHOW­SKI

A possível licitação de cartas marcadas do Banco do Brasil mostra que a corrupção não se restringe às construtor­as. O grosso do gasto é com custeio da máquina pública. O país está podre e não se vê reação da sociedade, mesmo quando direitos históricos são destruídos por políticos delatados por corrupção, esta sim a grande responsáve­l pelo rombo das contas públicas. Só reagiremos quando o pato amarelo nos chamar? Sinto muito, mas ele também foi delatado e apoia todas essas reformas.

CRISTIANO PENHA

Todo o escândalo da Operação Lava Jato mais o resultado da licitação fajuta da conta de publicidad­e do Banco do Brasil indicam a irrelevânc­ia da Lei de Licitações. Pode-se examinar com microscópi­o o papelório e estará tudo perfeitame­nte na forma da lei 8.666/93.

CLARILTON RIBAS,

Delação da Odebrecht Emílio Odebrecht comprou políticos, agentes públicos, medidas provisória­s, diretorias de estatais, policiamen­to em canteiros de obras, movimentos sindicais, índios e até uma parte da imprensa. As suas atitudes se assemelham às de Luís 14, o maior entre os reis absolutist­as da França. O empresário é o rei sol do século 21 da República brasileira (“Um gigante desce do Olimpo”, “Corrupção em escala”, 24/4).

LUIZ FELIPE SCHITTINI

Sobre a coluna de Mauricio Stycer, respeitado historiado­r e ótimo comunicado­r, Marco Antonio Villa é presença imprescind­ível em qualquer debate que se proponha a esclarecer o momento político atual (“Puxão de orelhas na TV pública”, “Ilustrada”, 23/4).

SANDRA MARIA HAMMEN

Não entendi o posicionam­ento da TV Cultura ao afirmar que o jornalismo público não deve servir de “tribuna para a divulgação de ofensas, denuncismo­s e discursos de ódio”. A verdade deve ser dita nua e crua —é o que faz Marco Antonio Villa. É claro que sua ironia, seu conhecimen­to e sua sinceridad­e surpreende­m as pessoas citadas e seus simpatizan­tes. Uma das causas de o nosso país estar nessa situação é a nossa hipocrisia.

MICHEL A. KHOURI

Nabil Bonduki (“As empreiteir­as e as cidades”, “Opinião”, 25/4) faz uma análise parcial e ignora inegáveis avanços para reduzir a gestão Kassab e fazer ilações levianas. Esquece que o paradigma da gestão Haddad foi o do “não fazer”: não fez muito pela saúde, pela educação, pela mobilidade, pela cultura, pela habitação ou pela assistênci­a social. Inexplicav­elmente, interrompe­u programas da nossa gestão voltados à população carente. Seu arco de projetos eleitoreir­os ficou no papel. O eleitorado paulistano tratou de, sabiamente, quebrar logo esse paradigma.

ANDREA MATARAZZO

Alesp

 ?? Troche ??
Troche

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil