Folha de S.Paulo

Intervençã­o do governo suspende licitação do BB

Banco não vai homologar vencedor até conclusão de apuração interna

- DANIELA LIMA

Resultado, adiantado pela Folha, teve a agência Multi Solution como primeira colocada para conta de R$ 500 mi

O Banco do Brasil decidiu não homologar o resultado da licitação de publicidad­e, cujo nome da vencedora foi antecipado à Folha, até que uma auditoria interna apure indícios de direcionam­ento da concorrênc­ia.

Como o jornal mostrou na edição desta terça (25), o nome da primeira colocada, a agência Multi Solution, foi obtido pela reportagem quatro dias antes da abertura dos envelopes que oficializa­riam o resultado.

A informação é de que houve direcionam­ento na estatal para favorecer a empresa. O banco nega qualquer ação nesse sentido, assim como o presidente da agência, Pedro Queirolo. Essa é a maior licitação já disputada no governo Michel Temer.

A Multi Solution e outras duas empresas dividiriam um contrato de até R$ 500 milhões por um ano, prorrogáve­l até o limite de 60 meses, totalizand­o mais R$ 2,5 bilhões, sem contabiliz­ar eventuais reajustes.

O vazamento do resultado da licitação irritou o Palácio do Planalto, que enviou emissários ao BB para pedir uma solução rápida para o caso.

Destas conversas ficou acertado que o banco suspenderi­a o resultado da licitação até que o caso fosse elucidado. Há forte cobrança para que o certame seja anulado.

O BB, por sua vez, entrou em contato com o presidente do TCU (Tribunal de Contas da União), Raimundo Carreiro. Dentro da corte, o movimento foi visto como estraté- gico, já que havia entre os ministros quem defendesse uma intervençã­o no caso com o pedido de anulação da licitação, o que traria mais desgaste ao banco.

Antes mesmo da publicação da reportagem da Folha expondo o vazamento, o governo Temer havia estranhado o resultado porque a Multi Solution nunca teve contrato com o poder público e é vista como uma novata sem estrutura para tocar uma conta como a do Banco do Brasil.

Nesta terça, foi anunciado o resultado de outra licitação de agências de publicidad­e, desta vez da Secom (Secretaria de Comunicaçã­o Social da Presidênci­a da República), e a Multi Solution ficou com a última colocação (leia mais na pág. A5).

Integrante­s do governo e especialis­tas ouvidos pela Folha apontaram fatos inusitados na pontuação obtida pela Multi Solution na concorrênc­ia do Banco do Brasil.

A agência obteve nota 13,08 de um total possível de 15 no quesito capacidade de atendiment­o, sendo que não possui um escritório em Brasília e conta com equipe enxuta em comparação com suas concorrent­es.

Recebeu nota máxima, 10, no quesito repertório, deixando para trás nomes como a Lew Lara, que atende atualmente o banco.

Por meio de sua assessoria, o BB afirmou que “o processo de licitação para escolha das novas agências de publicidad­e não está finalizado e obedece a legislação”.

“A definição das classifica­das seguiu critérios técnicos, conforme parâmetros previstos em edital público”, diz o texto. A instituiçã­o financeira afirma ainda que o resultado da auditoria interna “será determinan­te para a finalizaçã­o da licitação”. “O BB não hesitará em adotar qualquer outro procedimen­to que julgar necessário.”

Na segunda-feira (24), o presidente da Multi Solution, Pedro Queirolo negou irregulari­dades. “De forma alguma [houve favorecime­nto].”

Queirolo disse ainda que, apesar de só ter clientes privados em seu portfólio viu “no novo momento que o país enfrenta uma oportunida­de para desenvolve­r um trabalho sério e competente também no setor público”.

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Lula Marques - 17.jun.2010/Folhapress Sede do Banco do Brasil em Brasília; instituiçã­o freou resultado de licitação de publicidad­e

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