Intervenção do governo suspende licitação do BB
Banco não vai homologar vencedor até conclusão de apuração interna
Resultado, adiantado pela Folha, teve a agência Multi Solution como primeira colocada para conta de R$ 500 mi
O Banco do Brasil decidiu não homologar o resultado da licitação de publicidade, cujo nome da vencedora foi antecipado à Folha, até que uma auditoria interna apure indícios de direcionamento da concorrência.
Como o jornal mostrou na edição desta terça (25), o nome da primeira colocada, a agência Multi Solution, foi obtido pela reportagem quatro dias antes da abertura dos envelopes que oficializariam o resultado.
A informação é de que houve direcionamento na estatal para favorecer a empresa. O banco nega qualquer ação nesse sentido, assim como o presidente da agência, Pedro Queirolo. Essa é a maior licitação já disputada no governo Michel Temer.
A Multi Solution e outras duas empresas dividiriam um contrato de até R$ 500 milhões por um ano, prorrogável até o limite de 60 meses, totalizando mais R$ 2,5 bilhões, sem contabilizar eventuais reajustes.
O vazamento do resultado da licitação irritou o Palácio do Planalto, que enviou emissários ao BB para pedir uma solução rápida para o caso.
Destas conversas ficou acertado que o banco suspenderia o resultado da licitação até que o caso fosse elucidado. Há forte cobrança para que o certame seja anulado.
O BB, por sua vez, entrou em contato com o presidente do TCU (Tribunal de Contas da União), Raimundo Carreiro. Dentro da corte, o movimento foi visto como estraté- gico, já que havia entre os ministros quem defendesse uma intervenção no caso com o pedido de anulação da licitação, o que traria mais desgaste ao banco.
Antes mesmo da publicação da reportagem da Folha expondo o vazamento, o governo Temer havia estranhado o resultado porque a Multi Solution nunca teve contrato com o poder público e é vista como uma novata sem estrutura para tocar uma conta como a do Banco do Brasil.
Nesta terça, foi anunciado o resultado de outra licitação de agências de publicidade, desta vez da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República), e a Multi Solution ficou com a última colocação (leia mais na pág. A5).
Integrantes do governo e especialistas ouvidos pela Folha apontaram fatos inusitados na pontuação obtida pela Multi Solution na concorrência do Banco do Brasil.
A agência obteve nota 13,08 de um total possível de 15 no quesito capacidade de atendimento, sendo que não possui um escritório em Brasília e conta com equipe enxuta em comparação com suas concorrentes.
Recebeu nota máxima, 10, no quesito repertório, deixando para trás nomes como a Lew Lara, que atende atualmente o banco.
Por meio de sua assessoria, o BB afirmou que “o processo de licitação para escolha das novas agências de publicidade não está finalizado e obedece a legislação”.
“A definição das classificadas seguiu critérios técnicos, conforme parâmetros previstos em edital público”, diz o texto. A instituição financeira afirma ainda que o resultado da auditoria interna “será determinante para a finalização da licitação”. “O BB não hesitará em adotar qualquer outro procedimento que julgar necessário.”
Na segunda-feira (24), o presidente da Multi Solution, Pedro Queirolo negou irregularidades. “De forma alguma [houve favorecimento].”
Queirolo disse ainda que, apesar de só ter clientes privados em seu portfólio viu “no novo momento que o país enfrenta uma oportunidade para desenvolver um trabalho sério e competente também no setor público”.