Folha de S.Paulo

OAS quer delatar propina em fundo da Caixa

Para tentar fazer avançar o acordo com a Lava Jato, empreiteir­a entregaria ainda membros do Poder Judiciário

- WÁLTER NUNES FLÁVIO FERREIRA

Número de delatores pode chegar a 50, incluindo os herdeiros Carlos Mata Pires e César Matar Pires Filho

Para avançar no acordo de delação premiada com a Operação Lava Jato, a OAS promete entregar casos de pagamentos de propina para dirigentes de fundos de pensão e membros do Judiciário. Um dos alvos da proposta de delação é a Funcef, fundo de pensão dos funcionári­os da Caixa Econômica Federal.

A Funcef fez, em 2014, aporte de R$ 200 milhões na OAS Empreendim­entos. Outros R$ 200 milhões seriam direcionad­os em 2015, mas o fundo suspendeu o repasse por conta do avanço da Lava Jato sobre a empresa baiana.

A OAS já apareceu vinculada à Funcef durante a CPI dos Fundos de Pensão que, em 2015, investigou a aplicação de recursos dos fundos de previdênci­a complement­ar de funcionári­os de estatais e servidores públicos.

Um documento da CPI mostrou que executivos da OAS estiveram pelo menos 45 vezes na sede da Funcef entre os anos de 2011 e 2015. Antonio Carlos Mata Pires, filho do dono da empreiteir­a, César Mata Pires, encabeçou a lista, com 16 visitas. Pires é um dos prováveis delatores da empreiteir­a e deverá partir dele as revelações sobre fundos de pensão. Seu irmão, César Mata Pires Filho, também negocia acordo de delação.

A Folha apurou que os executivos da OAS também estão dispostos a relatar casos de corrupção envolvendo membros do Judiciário. Até agora, outras empreiteir­as entraram pouco nesse assunto.

Antes de a OAS negociar uma delação conjunta de seus executivos, a exemplo do que fez a Odebrecht, Léo Pinheiro, um dos sócios da empreiteir­a, iniciou tratativas nesse sentido com a Procurador­ia.

Um acordo de confidenci­alidade chegou a ser assinado. Porém, as reuniões foram interrompi­das em agosto de 2016, após a revista “Veja” publicar que o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) José Antonio Dias Toffoli teria sido mencionado nas negociaçõe­s com o Ministério Público Federal.

Para justificar a suspensão das tratativas com Pinheiro, a Procurador­ia afirmou que a reportagem revelou “uma tentativa de forçar os investigad­ores a aceitar a colaboraçã­o mediante pressão externa, a despeito de uma análise apropriada do interesse público envolvido”.

Os executivos da OAS também prometem avançar em episódios narrados nas delações da Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez a respeito de obras em as empreiteir­as participar­am juntas em consórcio.

A lista de candidatos a delatores da OAS chega perto de 50 pessoas, contando os os dois herdeiros do grupo, executivos e ex-executivos.

Outras dezenas de funcionári­os participam do processo na condição de lenientes, ou seja, testemunha­s que ajudam a detalhar os casos relatados pelos delatores. Os lenientes, porém, não são incriminad­os por não terem poder de decisão nos fatos em que a empresa cometeu um delito.

Caso a OAS feche a colaboraçã­o com essa quantidade de delatores, será o segundo maior acordo em bloco da Lava Jato, depois do da Odebrecht, no qual 77 participar­am.

Como a OAS não tinha um departamen­to destinado a operaciona­lizar o pagamento de propina, como o setor de operações estruturad­as da Odebrecht, o trabalho de apurar as histórias e reunir provas da corrupção foi feito de setor em setor, levantando dados de cada obra e entrevista­ndo os gestores. OUTRO LADO A Folha procurou a OAS e o advogado José Luiz de Oliveira Lima, que conduz as negociaçõe­s, mas ambos não quiseram se manifestar.

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Paulo Lisboa - 5.set.2016/Brazil Photo Press O ex-presidente da OAS Léo Pinheiro deixa o IML de Curitiba papós ser alvo de uma das fases da Operação Lava Jato

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