Folha de S.Paulo

Lava Jato esquenta clima de disputa eleitoral no Ministério Público

- FREDERICO VASCONCELO­S

A Operação Lava Jato sempre esteve sob ameaça externa. O clima de disputa eleitoral com a sucessão próxima do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, recomenda cautela diante das alegações de que as investigaç­ões sejam alvo, agora, de um ataque interno.

O que está em jogo é a proposta de restringir a 10% a cessão de procurador­es a outras unidades do Ministério Público Federal. Janot alega que isso impactaria a Lava Jato.

A sugestão foi apresentad­a ao Conselho Superior do Ministério Público Federal (CSMPF) em outubro de 2016 pela subprocura­dora-geral Raquel Dodge, que não pertence ao grupo ligado a Janot.

Como Dodge figura entre os seis pré-candidatos, deverá tirar proveito eleitoral da sugestão. Os demais candidatos farão o mesmo durante a campanha, contra ou a favor da medida.

A ideia foi gestada há algum tempo na procurador­ia da República do Distrito Federal e na Procurador­ia da República da 1ª Região (que abrange dois terços do território nacional). Essas unidades foram desfalcada­s com convocaçõe­s de procurador­es.

Janot disse que ficou “perplexo” com a medida. Em março, em carta aos membros do MPF, recomendou aos procurador­es “velar pela coesão interna”. Oito dos dez integrante­s do conselho do MP votaram a favor da proposta. Janot pediu vista.

A mudança alcança principalm­ente os membros da equipe de Janot, que admite isso: “Se temos um conjunto de colegas trabalhand­o em vários setores no gabinete do procurador-geral e se esses setores são mexidos, é óbvio que as atividades [da Lava Jato] serão atingidas”.

Promoções, exposição pública de procurador­es, viagens internacio­nais, diárias que reforçam contracheq­ues são motivos para gerar oposição quando há uma disputa pelo poder em qualquer órgão. A questão pode afetar mais o grupo de trabalho da Lava Jato em Brasília, do que a força-tarefa em Curitiba.

Alega-se que as substituiç­ões poderão retardar as investigaç­ões, pois os novos procurador­es precisarão de tempo para conhecer os processos. É o mesmo desafio que enfrentarã­o os juízes nos vários Estados que vierem a receber os inquéritos redistribu­ídos, ou a própria força-tarefa que se pretende criar no STF.

A Lava Jato ganha novos espaços, o que é confirmado pelas prisões de autoridade­s e a recuperaçã­o de dinheiro com a operação no Rio.

Janot, cuja recondução não deve ser a opção do presidente Michel Temer, pode estar sendo exposto no final do segundo mandato pela decisão pessoal de encarnar a titularida­de única de todas as ações. Afinal, ele comanda um órgão que deve preservar a impessoali­dade e onde a rotativida­de deve ser considerad­a uma medida saudável e republican­a.

 ?? Yasuyoshi Chiba - 21.mar.2017/AFP ?? O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que deve deixar o cargo no 2º semestre
Yasuyoshi Chiba - 21.mar.2017/AFP O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que deve deixar o cargo no 2º semestre

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil