Folha de S.Paulo

PSDB estuda lançar David Uip ao governo

Secretário de Saúde de Alckmin pode concorrer caso governador não saia à Presidênci­a ou se Doria ficar no cargo

- IGOR GIELOW

Médico diz ignorar especulaçã­o sobre seu nome, mais um efeito colateral da Lava Jato sobre o tucanato

Enquanto reagrupa suas forças após o impacto da delação da Odebrecht sobre a sigla, o PSDB de São Paulo estuda lançar o secretário estadual de Saúde, David Uip, para disputar o Palácio dos Bandeirant­es em 2018.

“É o melhor nome. É um candidato preparado, que entende de saúde, um problema gravíssimo que enfrentamo­s”, afirma o presidente estadual do partido, o também médico Pedro Tobias.

Segundo a Folha apurou, Uip surge em dois cenários. Caso o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP), citado na delação como tendo recebido R$ 10,7 milhões em caixa dois em 2010 e 2014, esteja fora da sucessão presidenci­al, o partido hoje crê que o tucano ideal para disputar o Planalto será o prefeito paulistano, João Doria.

Nessa hipótese, Uip seria um nome adequado para a disputa. Apesar de laços estreitos com o PSDB, ele carrega uma certa aura antipolíti­ca, que virou o ponto de venda predileto de todo o marketing político em tempos de Operação Lava Jato.

Assim como Doria, poderia emergir como um “outsider” apoiado no coração do sistema, mas não contaminad­o pelas práticas apuradas pela Lava Jato. A bandeira da saúde pública é outro ativo forte, já que o tema está sempre entre os mais sensíveis para o eleitorado.

Uma segunda possibilid­ade de disputa para Uip, considerad­a menos provável hoje, surge caso Alckmin sobreviva politicame­nte até o fim do ano e Doria resolva permanecer na prefeitura.

Uip afirmou, por meio de sua assessoria, que ignora a discussão sobre seu nome. “Estou preocupado em trabalhar pela saúde de São Paulo”, disse, de resto em forma tipicament­e antipolíti­ca.

Em público, o PSDB paulista segue apoiando Alckmin à Presidênci­a e vê Doria como um plano B pronto para uso. “Por enquanto, estamos 100% com o governador para a Presidênci­a. Mas nesses tempos não sabemos nem como será a semana que vem, e a delação machucou o parti- do”, diz Tobias, que é deputado estadual.

Ele ressalta que crê na “honestidad­e do governador, que não está em jogo”.

A reação tucana à crise da Lava Jato, que até as delações da Odebrecht era mais fortemente associada ao PT e seus aliados na era Lula-Dilma, está sendo mais rápida em São Paulo, berço do partido, do que em nível nacional.

Três medalhões da sigla fo- ram atingidos, dois mais fortemente: os senadores Aécio Neves (MG), que buscava ser presidenci­ável de novo, e José Serra (SP), que vinha sendo esteio da aliança entre o partido e o governo Michel Temer (PMDB).

Tanto o mineiro quanto o paulista estão trabalhand­o em suas defesas agora. Virtualmen­te fora de qualquer baralho presidenci­al, Aécio por enquanto especula concorrer ao Congresso.

O terceiro graúdo alvejado é Alckmin. Seu caso é considerad­o menos grave juridicame­nte que o dos colegas, mas há consenso de que a simples menção na delação e o fato de que um cunhado do governador foi acusado de receber dinheiro em seu nome podem abater suas chances em 2018.

Enquanto avalia os danos, o governador busca ordenar o discurso público em defesa de sua gestão e do PSDB em si. Como relatou o “Painel” desta Folha na semana passada, ele deu a tarefa à nova geração de prefeitos do partido no Estado, muitos deles com menos de 40 anos.

Despontam no cenário os titulares em Santos, São José dos Campos, Ribeirão Preto, Jundiaí e São Bernardo do Campo, entre outros.

E Alckmin tem um trunfo no prefeito paulistano. “Ele caiu no gosto da população. Acho o Doria uma solução para qualquer candidatur­a, ao governo do Estado ou à Presidênci­a”, afirma Tobias.

Mesmo que seja engolido pela criatura, ou criaturas no caso de seu secretário de Saúde entrar na disputa, Alckmin poderia sair candidato a senador ou deputado mantendo seu grupo no poder.

Se Doria estiver em algum páreo, o prefeito de São Paulo será Bruno Covas (PSDB), neto do paciente mais famoso e confidente do infectolog­ista Uip: o governador Mário Covas (1930-2001), o padrinho político de Alckmin.

Assim, com novas caras mas antigas relações, o PSDB busca manter seu domínio de duas décadas sobre o Estado e tentar voltar ao Planalto.

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Adriana Spaca - 8.fev.2017/Brazil Photo Press/Folhapress O secretário de Saúde do Estado de São Paulo, David Uip, cotado para candidato do PSDB ao governo paulista em 2018

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