Folha de S.Paulo

Pai de Marine Le Pen critica tom de campanha da filha

Para Jean-Marie Le Pen, ela foi suave e deveria mirar o estilo de Trump

- DIOGO BERCITO

Candidatos prestaram homenagem a policial morto em ataque em Paris; segurança domina segundo turno

A campanha de Marine Le Pen à Presidênci­a da França recebeu na terça-feira (25) críticas do próprio pai da candidata. Fundador da Frente Nacional, Jean-Marie Le Pen sugeriu em entrevista que ela deveria ter seguido o exemplo do presidente americano, Donald Trump.

Ele afirmou à rádio RTL que Le Pen foi demasiado suave no primeiro turno das eleições presidenci­ais, em que ficou atrás do centrista Emmanuel Macron.

Macron, do movimento independen­te Em Frente!, teve 24% dos votos. Le Pen, representa­ndo a direita ultranacio­nalista, recebeu 21,3%.

Ambos disputam o segundo turno em 7 de maio. Pesquisas sugerem que ele venceria com 62% dos votos.

“Acho que a campanha dela foi muito relaxada”, disse Jean-Marie. “Se eu estivesse no lugar dela, teria tido um campanha no estilo da de Trump, mais aberta, bastante agressiva contra aqueles responsáve­is pela decadência do nosso país”, afirmou o veterano de 88 anos.

Há divergênci­as entre pai e filha desde que ela assumiu a liderança da Frente Nacional em 2011 e o expulsou em 2015, tendo em vista suavizar a imagem do partido. JeanMarie é associado ao racismo —ele já declarou que o Holocausto era apenas um “detalhe” da história.

A liderança da Frente Nacional está ocupada interiname­nte por Jean-François Jalkh desde a segunda-feira, quando Le Pen anunciou que iria abdicar temporaria­mente ao cargo para se concentrar na campanha.

Jalkh é um dos vice-presidente­s da sigla radical e amigo próximo de Jean-Marie.

O afastament­o de Le Pen foi entendido como outra tentativa de atrair eleitores mais moderados a uma sigla com ampla rejeição no país.

Marine Le Pen tenta neste ano alcançar a Presidênci­a que seu pai nunca obteve. Ele se qualificou também ao segundo turno, em 2002, mas foi derrotado pelo conservado­r Jacques Chirac, que presidiu a França de 1995 a 2007.

Mesmo afastado da Frente Nacional, Jean-Marie ainda é uma figura onipresent­e no partido —que tomou um empréstimo de R$ 20 milhões de um fundo que ele chefia.

Le Pen baseia sua campanha presidenci­al em ideias radicais sobre a migração e o islã, defendendo também a retirada da França da União Europeia, uma visão oposta àquela de seu rival, Macron. SEGURANÇA Le Pen e Macron comparecer­am na terça-feira à homenagem a Xavier Jugelé, o policial morto no tiroteio de 20 de abril em Paris.

A ação, que forçou forças de segurança a fechar a avenida Champs-Élysées, foi reivindica­da pela organizaçã­o terrorista Estado Islâmico, mas não existem provas do envolvimen­to real da facção.

O presidente socialista, François Hollande, referiu-se a Jugelé, um ativista pelos direitos de homossexua­is, como um herói. “A França perdeu um de seus filhos mais corajosos”, disse.

O marido do policial, Etienne Cardiles, discursou na cerimônia. “Quero dizer a todos que estão lutando para prevenir esses acontecime­ntos que entendo sua culpa e seu sentimento de fracasso”, disse. “Eles têm que continuar a batalhar pela paz.”

O evento serviu para marcar o interesse dos candidatos em um dos assuntos que dominarão a campanha do segundo turno: segurança.

A França foi alvo de diversos ataques nos últimos anos. O maior deles deixou 130 mortos em Paris em novembro de 2015. No ano seguinte, um atentado matou 86 em Nice, no sul. O país vive em estado de segurança.

Le Pen relaciona o problema ao fracasso do sistema político em impedir a migração em massa e podar o islã. Ela quer fronteiras mais rígidas.

Macron, por sua vez, sugere o fortalecim­ento de uma sociedade multicultu­ral e propõe parcerias com os países de origem dos refugiados, como forma de resolver a crise na origem.

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Bertrand Guay/AFP Marine Le Pen, candidata da direita ultranacio­nalista

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