Tecnologia sofisticou a censura, diz ONG
‘Repressão 2.0’ inclui notícias falsas e retaliação financeira a jornalistas, segundo comitê de defesa da profissão
Persistem ainda ameaças antigas como a prisão de profissionais de imprensa, que teve recorde em 2016
Tida como potencial aliada da liberdade de expressão, a tecnologia não acabou com a censura, só a tornou mais complexa e sofisticada, diz a edição 2017 do relatório da ONG americana CPJ (Comitê de Proteção aos Jornalistas).
A publicação descreve como governos, narcotraficantes e até facções terroristas têm usado a internet para atacar o direito à informação.
A chamada “repressão 2.0” é apresentada como uma combinação de antigas táticas, como a prisão de jornalistas (que chegou ao recorde de 259 em 2016), a novas, potencializadas pela tecnologia.
Nesse segundo grupo estão o uso de sistemas de controle de informação, o monitoramento digital de críticos —e eventual bloqueio de sua atuação—, e a disseminação de notícias falsas.
“Alguém ainda acredita no mantra utópico de que a informação quer ser livre e que é impossível censurar ou controlar a internet?”, questiona Joel Simon, diretor do comitê.
Entre os citados pela ameaça à informação estão, em destaque, China e Rússia.
Moscou, além de lutar contra atuação digital da dissidência ao governo Putin, usa a internet para espalhar propaganda e manipular a opinião pública, diz o relatório.
Já Pequim planeja um sistema de créditos para jornalistas que publicam conteúdo crítico em redes sociais, descreve a pesquisadora Yaquiu Wang. Os que receberem mais pontos podem ser financeiramente penalizados, com empréstimos negados e juros maiores, por exemplo.
Um capítulo é dedicado aos EUA, em meio à preocupação com a disseminação de notícias falsas e com o clima de “hostilidade e intimidação” criado, diz a publicação, pela retórica agressiva do presidente Donald Trump.
O CPJ cita também o uso das novas tecnologias por “forças violentas”, como o Estado Islâmico e cartéis de traficantes de drogas, para se comunicar diretamente com o público, livrando-se da intermediação crítica da mídia.
Pelo uso do arsenal repressivo mais conhecido, o governo turco recebe especial atenção especial, uma vez que o país exerce forte controle sobre a mídia e é o que mais prende jornalistas—81 dos 259 detidos, segundo comunicado do CPJ no fim de 2016. BRASIL O Brasil também é mencionado, em trecho sobre a violência contra jornalistas.
“Quais as soluções para a censura assassina no México ou em qualquer das dezenas de outras democracias como Filipinas, Paquistão, Nigéria ou Brasil, onde a impunidade no assassinato de jornalistas é incontrolável (...)?”
Segundo a Federação Nacional dos Jornalistas, houve 161 casos de violência em 2016, sendo duas mortes.