Folha de S.Paulo

Fapesp bloqueará verba de instituiçã­o que não adotar medidas antiplágio

Dinheiro retido é destinado a projetos de melhoria de infraestru­tura; em 2016, foram R$ 56 mi

- GABRIEL ALVES

Para coordenado­r da Fapesp, instituiçõ­es têm sido muito lenientes com pesquisado­res que cometeram erros

Não combater a picaretage­m acadêmica pode custar dezenas de milhões de reais para as instituiçõ­es de pesquisa do Estado de São Paulo.

A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) deve, ainda em 2017, começar a indeferir projetos de melhoria na infraestru­tura de instituiçõ­es que não criarem um escritório voltado ao estímulo da integridad­e acadêmica.

Para cada projeto de pesquisa aprovado pela Fapesp, um valor correspond­ente a 10% da verba é destinado à instituiçã­o de pesquisa para esses projetos de melhoria. No ano passado foram repassados R$ 56 milhões a tais projetos em 141 entidades.

Segundo Luiz Henrique Lopes dos Santos, membro da diretoria da Fapesp e professor de filosofia da USP, entre as instituiçõ­es paulistas só a UFABC (Universida­de Federal do ABC) tem um órgão do tipo em seu organogram­a.

“Faz cinco anos que todo mundo está avisado que isso aconteceri­a. Está no termo de outorga assinado pelo responsáve­l da instituiçã­o”, diz.

O escritório de integridad­e acadêmica deve cuidar de atividades de educação, treinament­o e investigaç­ão de casos de plágio e de outros desvios de conduta, como fraudes em artigos científico­s.

“É um recado para os pesquisado­res”, diz Santos. Para ele, o avanço obtido até então é muito discreto. “Hoje, mesmo as instituiçõ­es que montam comissões ou sindicânci­as para investigar casos de fraude são muito lenientes.”

Em 2014, a Fapesp, como parte de seu projeto de boas práticas científica­s, publicou uma espécie de “página da vergonha” na internet. A lista tem nomes de pesquisado­res que, segundo decisão da fundação (baseada em suas investigaç­ões), tiveram conduta irregular.

Para Santos, o número de casos ainda sob investigaç­ão é grande e só deve ser reduzido com a implementa­ção de uma política adotada por esses escritório­s de integridad­e acadêmica, de forma que a cultura acadêmica se modifique. Ele defende a ideia de que são as próprias instituiçõ­es que devem investigar e punir desvios éticos.

“Esperamos um dia não precisar impedir ninguém de pedir recursos para a Fapesp”, diz o professor.

Entre os recursos que podem ser utilizados para reduzir o número de plágios estão ferramenta­s que checam a semelhança entre textos acadêmicos e outros disponívei­s na internet e quantifica­m as informaçõe­s extraídas de outras fontes —algo como uma porcentage­m de plágio.

Laércio Dona, diretor comercial da plataforma Turnitin (adotada por USP, FGV e Unesp, entre outras instituiçõ­es), explica que os softwares atuais não são capazes de detectar o plágio de ideias, apenas o de texto.

Mas houve avanços nos últimos tempos: já é possível detectar paráfrases, substituiç­ão de palavras e expressões por sinônimos, traduções e mudança de orações para a voz passiva, por exemplo.

LUIZ HENRIQUE LOPES DOS SANTOS

coordenado­r da Fapesp

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