Fapesp bloqueará verba de instituição que não adotar medidas antiplágio
Dinheiro retido é destinado a projetos de melhoria de infraestrutura; em 2016, foram R$ 56 mi
Para coordenador da Fapesp, instituições têm sido muito lenientes com pesquisadores que cometeram erros
Não combater a picaretagem acadêmica pode custar dezenas de milhões de reais para as instituições de pesquisa do Estado de São Paulo.
A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) deve, ainda em 2017, começar a indeferir projetos de melhoria na infraestrutura de instituições que não criarem um escritório voltado ao estímulo da integridade acadêmica.
Para cada projeto de pesquisa aprovado pela Fapesp, um valor correspondente a 10% da verba é destinado à instituição de pesquisa para esses projetos de melhoria. No ano passado foram repassados R$ 56 milhões a tais projetos em 141 entidades.
Segundo Luiz Henrique Lopes dos Santos, membro da diretoria da Fapesp e professor de filosofia da USP, entre as instituições paulistas só a UFABC (Universidade Federal do ABC) tem um órgão do tipo em seu organograma.
“Faz cinco anos que todo mundo está avisado que isso aconteceria. Está no termo de outorga assinado pelo responsável da instituição”, diz.
O escritório de integridade acadêmica deve cuidar de atividades de educação, treinamento e investigação de casos de plágio e de outros desvios de conduta, como fraudes em artigos científicos.
“É um recado para os pesquisadores”, diz Santos. Para ele, o avanço obtido até então é muito discreto. “Hoje, mesmo as instituições que montam comissões ou sindicâncias para investigar casos de fraude são muito lenientes.”
Em 2014, a Fapesp, como parte de seu projeto de boas práticas científicas, publicou uma espécie de “página da vergonha” na internet. A lista tem nomes de pesquisadores que, segundo decisão da fundação (baseada em suas investigações), tiveram conduta irregular.
Para Santos, o número de casos ainda sob investigação é grande e só deve ser reduzido com a implementação de uma política adotada por esses escritórios de integridade acadêmica, de forma que a cultura acadêmica se modifique. Ele defende a ideia de que são as próprias instituições que devem investigar e punir desvios éticos.
“Esperamos um dia não precisar impedir ninguém de pedir recursos para a Fapesp”, diz o professor.
Entre os recursos que podem ser utilizados para reduzir o número de plágios estão ferramentas que checam a semelhança entre textos acadêmicos e outros disponíveis na internet e quantificam as informações extraídas de outras fontes —algo como uma porcentagem de plágio.
Laércio Dona, diretor comercial da plataforma Turnitin (adotada por USP, FGV e Unesp, entre outras instituições), explica que os softwares atuais não são capazes de detectar o plágio de ideias, apenas o de texto.
Mas houve avanços nos últimos tempos: já é possível detectar paráfrases, substituição de palavras e expressões por sinônimos, traduções e mudança de orações para a voz passiva, por exemplo.
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LUIZ HENRIQUE LOPES DOS SANTOS
coordenador da Fapesp