Folha de S.Paulo

Genitais são vandalizad­os em pinturas de museu de Curitiba

Perfurado, um dos quadros é do uruguaio Joaquín Torres García

- HELENA CARNIERI

FOLHA,

Dois quadros que retratam a nudez feminina foram alvo de vandalismo nos últimos dias no MON (Museu Oscar Niemeyer), em Curitiba. Em ambos, o dano foi feito na região genital das figuras.

O museu informou que iniciou um processo de investigaç­ão junto às autoridade­s, com o apoio de imagens das câmeras de segurança do local. As obras, que pertencem ao acervo do MON, foram retiradas de exposição e levadas para restauro.

Em nota, a instituiçã­o diz que, “apesar do rigor da segurança, duas obras de valor artístico inestimáve­l que estavam em exposição foram danificada­s na última semana”. Segundo o texto, os danos provavelme­nte foram causados por perfuração de caneta ou lápis.

Fontes do meio artístico atribuem o crime a adolescent­es que visitaram o museu em grandes grupos durante o feriado.

Um dos quadros prejudicad­os, “Adán y Eva”, de 1927, é considerad­o um dos mais importante­s da casa pelo crítico de arte e professor da Universida­de Federal do Paraná Paulo Reis.

O autor, o uruguaio Joaquín Torres García, foi um dos primeiros da escola construtiv­ista na América Latina e influencio­u a corrente concretist­a dos anos 1950 e 60.

O outro quadro perfurado no MON é “Nereidas modernas”, de Rodolpho Doubek, discípulo do norueguês Alfredo Andersen (1860-1935). Funcionári­o público na área de cartografi­a, ele procurou o ateliê do mestre europeu em Curitiba para aprimorar sua arte.

De acordo com restaurado­res ouvidos pela Folha, furos pequenos como os realizados são relativame­nte fáceis de consertar, utilizando materiais próprios como fios de linho e adesivos no verso, e podem voltar a ser expostos rapidament­e. O valor estimado das obras não foi informado.

O crítico Paulo Reis diz lamentar que o incidente traga “mais uma vez agressão à representa­ção da mulher”, o que vai totalmente contra o momento atual de valorizaçã­o de manifestaç­ões artísticas feitas por mulheres ou representa­ndo seu corpo.

Não foi o primeiro incidente envolvendo o legado de Torres García no Brasil: em 1978, vários de seus quadros, expostos em retrospect­iva do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, foram queimados num incêndio.

Outro museu curitibano, o Alfredo Andersen, tem atualmente em cartaz a mostra “Expressão do Feminino”, que inclui pinturas de Sandra Hiromoto intitulada­s “Nem Toda Nudez Quer Ser Vestida”.

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