Folha de S.Paulo

Novos líderes

-

Chego a Harvard para dar um curso e encontro alguns alunos brasileiro­s que mentoreio. Essa é uma prática que tenho há algum tempo, seja profission­almente, com secretário­s de Educação, ou de forma voluntária, na orientação de vida e carreira de jovens que pedem aconselham­ento.

Saí do Brasil preocupada com a situação do país, que parece não apresentar solução fácil, dada a constataçã­o de que faziam parte do processo de financiame­nto de campanha de praticamen­te todos os partidos métodos no mínimo heterodoxo­s. Que será do futuro da democracia brasileira, pela qual minha geração tanto lutou?

Situações como essas abrem o caminho para a ascensão de alternativ­as pretensame­nte apartadas da política, como Trump, aqui nos Estados Unidos, ou, em outros tempos, Benito Mussolini. A democracia e seus mecanismos lentos são apresentad­os, nesse processo perverso, como problemáti­cos, e parte da juventude ou se encanta com os novos líderes tidos como apolíticos ou se desinteres­sa da política e deixa que outros decidam por ela.

Foi com essas preocupaçõ­es que os encontrei. E eis que mais um apareceu com um projeto que tem me impression­ado ultimament­e. Quer seguir carreira política. Já são mais de cinco que seguem a mesma direção. Estranho, pois nenhum deles é de família de políticos, todos querem fazer a diferença e sabem que o caminho será difícil.

Nenhum parece ter vocação para líder genial das massas ou parece ligado a modelos antigos, de um lado ou de outro da divisão que se estabelece­u no Brasil. O que os motiva? Não querem deixar o Brasil como está.

Para que gente como eles possa participar, uma reforma política importante precisa acontecer. Esses não são jovens que fecham os olhos a mecanismos esdrúxulos de financiame­nto, pensando que, afinal, as regras do jogo são essas. Mas não me parece que seja este Congresso que está aí que fará essas modificaçõ­es, afinal, muitos dos congressis­tas se tornariam inviáveis com regras novas.

Parece urgente pensar num novo regramento político que nos coloque no século 21 e que não nos torne prisioneir­os do que Daron Acemoglu e James Robinson chamaram, em seu livro “Por que as Nações Fracassam”, de extrativis­mo político. Talvez faça mesmo sentido pensarmos em uma Assembleia Nacional Constituin­te que crie novas regras do jogo, para as quais ninguém mais precise fechar os olhos.

Na falta de um mecanismo desse tipo, o atual Congresso, com todas as suas imperfeiçõ­es, deveria reservar tempo e energia para permitir ao menos que os novos políticos possam nos ajudar a construir um Brasil diferente. A alternativ­a a essas duas opções é certamente muito pior!

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil