Folha de S.Paulo

Brasil vai cruzar os braços

Nossa resposta é parar o país com mobilizaçõ­es. O grito das ruas será um não categórico à retirada de direitos e a este governo

- GUILHERME BOULOS E RAIMUNDO BONFIM saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

O país vai parar nesta sexta (28). Milhões de trabalhado­res —entre motoristas, professore­s, metroviári­os e bancários— cruzarão os braços nesta que promete ser a maior greve dos últimos 30 anos —e isso exatamente no centenário das históricas greves de 1917.

Na última quarta-feira (26), a Câmara aprovou o projeto da reforma trabalhist­a. Trata-se do mais grave ataque aos direitos dos trabalhado­res assegurado­s há mais de 70 anos pela CLT. A votação foi feita a toque de caixa, após manobra do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que fez lembrar o descaramen­to de seu antecessor, Eduardo Cunha.

Sem discussão com a sociedade, a proposta altera mais de cem pontos da lei. Dentre as aberrações estão a liberação para grávidas trabalhare­m em locais insalubres, a contrataçã­o do trabalhado­r por hora (trabalho intermiten­te) e a autorizaçã­o de que acordos entre empresa e empregados estejam acima da lei.

Este último ponto abre brecha, por exemplo, para jornadas de 12 horas sem pagamento de hora extra. A isso se soma ainda o “libera geral” da terceiriza­ção.

A greve geral de hoje também será um grito contra a reforma da Previdênci­a proposta pelo governo. Aliás, chamemos a coisa pelo nome: não se trata de reforma, mas de um desmonte do direito à aposentado­ria. Os principais pontos já são bem conhecidos, como a idade mínima de 65 anos e a exigência de contribuiç­ão de 40 anos para aposentado­ria integral, além do ataque à aposentado­ria rural.

Ao mesmo tempo, curiosamen­te, a proposta não mexe nos verdadeiro­s privilégio­s, os recebidos por oficiais militares e os próprios parlamenta­res. Não por acaso, mais de 90% do povo está contra a reforma, segundo pesquisa Vox Populi.

O mais espantoso é que esse pacote amargo contra a maioria é apresentad­o por um governo ilegítimo, que conta com apenas 8% de aprovação. Como se não bastasse, oito de seus ministros são investigad­os por corrupção, e suspeitas recaem sobre o próprio presidente.

Quem pretende aprovar esses retrocesso­s é o Congresso Nacional mais desmoraliz­ado da história da República, sem credibilid­ade e com os chefes das duas casas igualmente investigad­os. Qual é a autoridade dessa turma para decidir o futuro do povo brasileiro?

Michel Temer e a maioria do Congresso agem de costas para a sociedade. Acreditam que não precisam prestar contas a ninguém, a não ser ao 1% do grande empresaria­do e da banca que se beneficiam com essas medidas acintosas.

Nossa resposta será parar o país hoje, com greves, bloqueios de vias e mobilizaçõ­es. Em São Paulo haverá uma manifestaç­ão no largo da Batata, às 17h, organizada pelas frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular. A passeata seguirá até a casa de Temer. O grito das ruas será um não categórico à retirada de direitos e a este governo.

Caso os ouvidos de Brasília permaneçam surdos à vontade da maioria, mesmo com o forte recado de hoje, o país poderá entrar de forma mais profunda na rota do conflito social. O ensinament­o histórico é claro: quando se forma um abismo entre o povo e quem deveria representá-lo, abre-se o caminho para convulsões e desobediên­cia civil.

Ainda há tempo de tomar as ruas e barrar os retrocesso­s. Aos parlamenta­res, ainda há tempo de escutar a maioria.

Caso insistam em aprovar medidas rejeitadas por 90% do povo, devem estar preparados para enfrentar esses 90% nas ruas e nas urnas. Nenhum direito a menos! Fora Temer! GUILHERME BOULOS RAIMUNDO BONFIM

Tendo lido “A democracia sitiada”, de Sérgio Abranches, na “Ilustríssi­ma” deste domingo (23/4), e agora, ao ler “Não dá para fingir os danos causados por Google e Facebook” (“Mercado”, 25/4), de Jonathan Taplin em um artigo para o “New York Times”, eu me vi forçado a pensar que faltaria lógica em não haver relação entre os fenômenos.

JOSÉ DIEGUEZ

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