Empresas liberam pais sem escola para ficar em casa
Uma greve geral convocada por centrais sindicais e movimentos sociais alinhados à esquerda contra as reformas da Previdência e da legislação trabalhista deve atingir as principais cidades do país nesta sexta-feira (28).
Com a adesão de categorias ligadas ao transporte público em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e no Distrito Federal, os sindicalistas consideram que vão atingir a “espinha dorsal” do país, segundo o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves.
O movimento uniu as nove centrais sindicais do país —além da Força, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a União Geral dos Trabalhadores (UGT), a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), a Intersindical, a CSP/Conlutas, a Nova Central, a Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) e a Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB).
As entidades criticam mudanças na legislação trabalhista, como a terceirização —já sancionada pelo presidente Michel Temer— e o fim da contribuição sindical. Elas também se opõem às mudanças propostas pelo governo nas regras de aposentadoria.
Os inquéritos abertos para investigar políticos que integram o governo e foram atingidos pela Operação Lava Jato também serão lembrados para questionar o governo.
“Do jeito que está, não há o que negociar”, disse o presidente da CUT, Vagner Freitas, ligado ao PT. “Temer não quer negociar de fato, quer atender às exigências dos empresários que financiaram o golpe para acabar com a previdência pública e legalizar a exploração dos trabalhadores.”
A expectativa dos organizadores do movimento é que ele contribua para desgastar a imagem do governo e aumentar a pressão para que o Congresso barre as mudanças mudanças na Previdência e na legislação trabalhista. QUEM VAI PARAR Há previsão de paralisações e protestos em todos os Estados da Federação, conforme as centrais sindicais.
Na capital paulista, ao menos 14 categorias, incluindo metroviários, ferroviários, motoristas de ônibus, bancários, professores, químicos e servidores públicos, declararam adesão à greve nesta sexta.
O governo do Estado conseguiu uma liminar na Justiça contra a paralisação do metrô, dos ônibus e da CPTM e estabeleceu multa de R$ 937 mil a cada um dos sindicatos em caso de descumprimento. Procurados, eles afirmaram que vão recorrer da decisão e que a greve está mantida.
No Rio, a greve deve ter a adesão de rodoviários, bancários, professores, trabalhadores do porto, petroleiros e professores das três universidades públicas do Estado.
Aeroportos também podem ser afetados. O Sindicato dos Aeroviários de Guarulhos, categoria que engloba os profissionais da área de check-in e embarque, pediram ajuda ao MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) para parar os terminais de Congonhas e Guarulhos, os dois maiores do país.
Com uma média combinada de 1.200 pousos e decolagens por dia, uma interrupção das atividades nesses dois aeroportos causaria transtornos no transporte aéreo em todo o país, provocando o cancelamento de voos.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo afirmou que deslocará policiais militares para impedir a interdição de aeroportos e de rodovias que dão acesso aos terminais, disse o secretário Mágino Alves nesta quinta (27).
Apesar da promessa, as companhias áreas Gol, Latam e Avianca acharam melhor se precaver. As três anunciaram que não vão cobrar taxas de remarcação de passagens de clientes que forem afetados pela paralisação nesta sexta.
Os aeronautas —pilotos, copilotos e comissários— decidiram não aderir ao movimento. Eles haviam declarado “estado de greve” em assembleia na segunda-feira (24), mas decidiram reverter a decisão nesta quinta.
“Os dois principais pleitos de emendas dos aeronautas no projeto de lei da reforma trabalhista foram atendidos”, afirmou em nota o sindicato que representa a categoria. MANIFESTAÇÕES A Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo, das quais participam organizações como o o MTST e o Levante Popular da Juventude, marcaram um protesto para as 17h no largo da Batata, na zona oeste de São Paulo.
De lá, os manifestantes planejam caminhar até a casa do presidente Michel Temer, no bairro de Pinheiros. O presidente deve permanecer em Brasília nesta sexta.
Panfletos de 12 páginas em que o presidente é caracterizado como um vampiro serão distribuídos no protesto. A polícia planeja bloquear o entorno da casa de Temer, segundo o governo do Estado.
No Rio, um ato de protesto está sendo organizado e deve começar às 15h na Cinelândia. Em Belo Horizonte, uma manifestação está prevista para as 9h na praça da Estação.
Muitos escritórios e empresas se viram compelidos a liberar funcionários para trabalhar em casa nesta sexta (28). Além da previsão de paralisação dos meios de transporte públicos, a adesão de escolas particulares à greve desorganizou a vida de muitas famílias, que terão de lidar com as crianças em casa em pleno dia útil.
“Nossa missão é ser a melhor empresa possível para as mulheres trabalharem, e a questão da flexibilidade é essencial. Por isso, orientamos todo o mundo a fazer home office amanhã”, diz Anna Coubassier, executiva da Zôdio, empresa francesa do grupo da Leroy Merlin.
A paralisação é geral na rede pública de ensino. Nas escolas privadas, apesar de a Associação Brasileira das Escolas Particulares (Abepar) ter recomendado que a data fosse tratada como um dia letivo normal, a adesão de sindicatos de professores à greve levou colégios tradicionais a suspender as aulas.
Pegos de surpresa, muitos pais questionaram a decisão das escolas dos filhos. “Conseguimos reverter a decisão junto à diretoria, e a escola vai funcionar, com quadro reduzido”, disse a servidora pública federal Cristina Lemos de Oliveira Rodrigues. CARTA Um dia depois de alunos do colégio Santa Cruz criticarem a posição dos professores contra a reforma da Previdência, estudantes do Bandeirantes, outra escola tradicional de São Paulo, divulgaram nesta quinta (27) carta em que afirmam ter havido falta de diálogo sobre a greve geral por parte da direção da instituição.
Os alunos se queixaram do fato de a escola não os ter consultado sobre a manutenção das aulas nesta sexta. “Sentimos que as decisões foram tomadas de maneira unilateral. Em nenhum momento foi aberto espaço para debate e discussão que incluísse representantes de toda a comunidade escolar.”