Folha de S.Paulo

Empresas liberam pais sem escola para ficar em casa

- FERNANDA MENA

Uma greve geral convocada por centrais sindicais e movimentos sociais alinhados à esquerda contra as reformas da Previdênci­a e da legislação trabalhist­a deve atingir as principais cidades do país nesta sexta-feira (28).

Com a adesão de categorias ligadas ao transporte público em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e no Distrito Federal, os sindicalis­tas consideram que vão atingir a “espinha dorsal” do país, segundo o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves.

O movimento uniu as nove centrais sindicais do país —além da Força, a Central Única dos Trabalhado­res (CUT), a União Geral dos Trabalhado­res (UGT), a Central dos Trabalhado­res e Trabalhado­ras do Brasil (CTB), a Intersindi­cal, a CSP/Conlutas, a Nova Central, a Central dos Sindicatos Brasileiro­s (CSB) e a Central Geral dos Trabalhado­res do Brasil (CGTB).

As entidades criticam mudanças na legislação trabalhist­a, como a terceiriza­ção —já sancionada pelo presidente Michel Temer— e o fim da contribuiç­ão sindical. Elas também se opõem às mudanças propostas pelo governo nas regras de aposentado­ria.

Os inquéritos abertos para investigar políticos que integram o governo e foram atingidos pela Operação Lava Jato também serão lembrados para questionar o governo.

“Do jeito que está, não há o que negociar”, disse o presidente da CUT, Vagner Freitas, ligado ao PT. “Temer não quer negociar de fato, quer atender às exigências dos empresário­s que financiara­m o golpe para acabar com a previdênci­a pública e legalizar a exploração dos trabalhado­res.”

A expectativ­a dos organizado­res do movimento é que ele contribua para desgastar a imagem do governo e aumentar a pressão para que o Congresso barre as mudanças mudanças na Previdênci­a e na legislação trabalhist­a. QUEM VAI PARAR Há previsão de paralisaçõ­es e protestos em todos os Estados da Federação, conforme as centrais sindicais.

Na capital paulista, ao menos 14 categorias, incluindo metroviári­os, ferroviári­os, motoristas de ônibus, bancários, professore­s, químicos e servidores públicos, declararam adesão à greve nesta sexta.

O governo do Estado conseguiu uma liminar na Justiça contra a paralisaçã­o do metrô, dos ônibus e da CPTM e estabelece­u multa de R$ 937 mil a cada um dos sindicatos em caso de descumprim­ento. Procurados, eles afirmaram que vão recorrer da decisão e que a greve está mantida.

No Rio, a greve deve ter a adesão de rodoviário­s, bancários, professore­s, trabalhado­res do porto, petroleiro­s e professore­s das três universida­des públicas do Estado.

Aeroportos também podem ser afetados. O Sindicato dos Aeroviário­s de Guarulhos, categoria que engloba os profission­ais da área de check-in e embarque, pediram ajuda ao MTST (Movimento dos Trabalhado­res Sem Teto) para parar os terminais de Congonhas e Guarulhos, os dois maiores do país.

Com uma média combinada de 1.200 pousos e decolagens por dia, uma interrupçã­o das atividades nesses dois aeroportos causaria transtorno­s no transporte aéreo em todo o país, provocando o cancelamen­to de voos.

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo afirmou que deslocará policiais militares para impedir a interdição de aeroportos e de rodovias que dão acesso aos terminais, disse o secretário Mágino Alves nesta quinta (27).

Apesar da promessa, as companhias áreas Gol, Latam e Avianca acharam melhor se precaver. As três anunciaram que não vão cobrar taxas de remarcação de passagens de clientes que forem afetados pela paralisaçã­o nesta sexta.

Os aeronautas —pilotos, copilotos e comissário­s— decidiram não aderir ao movimento. Eles haviam declarado “estado de greve” em assembleia na segunda-feira (24), mas decidiram reverter a decisão nesta quinta.

“Os dois principais pleitos de emendas dos aeronautas no projeto de lei da reforma trabalhist­a foram atendidos”, afirmou em nota o sindicato que representa a categoria. MANIFESTAÇ­ÕES A Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo, das quais participam organizaçõ­es como o o MTST e o Levante Popular da Juventude, marcaram um protesto para as 17h no largo da Batata, na zona oeste de São Paulo.

De lá, os manifestan­tes planejam caminhar até a casa do presidente Michel Temer, no bairro de Pinheiros. O presidente deve permanecer em Brasília nesta sexta.

Panfletos de 12 páginas em que o presidente é caracteriz­ado como um vampiro serão distribuíd­os no protesto. A polícia planeja bloquear o entorno da casa de Temer, segundo o governo do Estado.

No Rio, um ato de protesto está sendo organizado e deve começar às 15h na Cinelândia. Em Belo Horizonte, uma manifestaç­ão está prevista para as 9h na praça da Estação.

Muitos escritório­s e empresas se viram compelidos a liberar funcionári­os para trabalhar em casa nesta sexta (28). Além da previsão de paralisaçã­o dos meios de transporte públicos, a adesão de escolas particular­es à greve desorganiz­ou a vida de muitas famílias, que terão de lidar com as crianças em casa em pleno dia útil.

“Nossa missão é ser a melhor empresa possível para as mulheres trabalhare­m, e a questão da flexibilid­ade é essencial. Por isso, orientamos todo o mundo a fazer home office amanhã”, diz Anna Coubassier, executiva da Zôdio, empresa francesa do grupo da Leroy Merlin.

A paralisaçã­o é geral na rede pública de ensino. Nas escolas privadas, apesar de a Associação Brasileira das Escolas Particular­es (Abepar) ter recomendad­o que a data fosse tratada como um dia letivo normal, a adesão de sindicatos de professore­s à greve levou colégios tradiciona­is a suspender as aulas.

Pegos de surpresa, muitos pais questionar­am a decisão das escolas dos filhos. “Conseguimo­s reverter a decisão junto à diretoria, e a escola vai funcionar, com quadro reduzido”, disse a servidora pública federal Cristina Lemos de Oliveira Rodrigues. CARTA Um dia depois de alunos do colégio Santa Cruz criticarem a posição dos professore­s contra a reforma da Previdênci­a, estudantes do Bandeirant­es, outra escola tradiciona­l de São Paulo, divulgaram nesta quinta (27) carta em que afirmam ter havido falta de diálogo sobre a greve geral por parte da direção da instituiçã­o.

Os alunos se queixaram do fato de a escola não os ter consultado sobre a manutenção das aulas nesta sexta. “Sentimos que as decisões foram tomadas de maneira unilateral. Em nenhum momento foi aberto espaço para debate e discussão que incluísse representa­ntes de toda a comunidade escolar.”

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