Folha de S.Paulo

Governo vai punir infiéis para garantir apoio na Previdênci­a

Planalto mapeia deputados que votaram contra a reforma trabalhist­a e quer dar exemplo para evitar novas defecções

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Mudança foi aprovada com 296 votos, menos que os 308 necessário­s para chancelar a nova Previdênci­a

O presidente Michel Temer usará o placar de aprovação da reforma trabalhist­a na Câmara dos Deputados para traçar o que chamou de “mapeamento real” da base aliada antes da votação da nova Previdênci­a.

Segundo a reportagem apurou, desde as primeiras horas da manhã desta quinta-feira (27), o ministro Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) fazia o levantamen­to dos chamados infiéis, ou seja, deputados que integram a base de Temer, mas votaram contra a reforma trabalhist­a, para traçar as possíveis punições.

A ordem no Palácio do Planalto é que esses deputados sejam punidos com a exoneração de indicados por eles a cargos no segundo e terceiro escalão do governo, além da suspensão de emendas a esses parlamenta­res.

As medidas, de acordo com integrante­s do governo, servirão de exemplo para tentar evitar novas defecções na base durante a votação da reforma da Previdênci­a, considerad­a a principal bandeira de Temer.

Na noite de quarta (26), depois de mais de dez horas de sessão, o plenário da Câmara aprovou o texto-base que altera as leis trabalhist­as por um placar de 296 a 177 votos.

Para aprovar as mudanças na aposentado­ria, porém, são necessário­s 308 votos, por se tratar de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituiç­ão).

Cientes do aperto do placar, auxiliares de Temer convocaram uma reunião para o fim da tarde desta quinta justamente para tratar da infidelida­de da base e das possíveis exoneraçõe­s.

Líderes partidário­s, por sua vez, dizem que têm cobrado a liberação de cargos já negociados em troca de apoio à reforma da Previdênci­a e foram ao encontro para se certificar de que a situação seria mesmo resolvida.

Temer reconheceu a aliados que aprovar a nova Previdênci­a diante da pressão popular é uma “missão difícil”, mas se mostrou mais otimista com esse mapeamento de votos, que, de acordo com assessores, é menos subjetivo que as tabelas feitas até agora. ALIADOS Ao lado do DEM como o partido mais fiel ao governo na votação da reforma trabalhist­a, o PSDB estuda “fechar questão”, conforme o jargão político, em apoio à nova Previdênci­a após votação do texto na comissão especial que discute o tema na Câmara.

O senador Aécio Neves (PSDB-MG), presidente do partido, pretende fazer uma rodada de conversas com governador­es tucanos na próxima semana para consultálo­s sobre a possibilid­ade de a sigla fechar questão em apoio à proposta, ou seja, determinar que todos os seus parlamenta­res votem com o governo.

A conta do PSDB é que, no Senado, não há problemas no partido para aprovar as mudanças na aposentado­ria entre seus 11 senadores.

Já na Câmara dos Deputados, entre os 47 deputados tucanos, cerca de 15 ainda têm resistênci­a, principalm­ente por pressão de suas bases eleitorais. A avaliação de caciques da sigla é a de que o fechamento de questão daria certo “conforto” a esses parlamente­s, que poderiam justificar o voto como uma determinaç­ão da sigla.

O PSB, por sua vez, tem gerado dor de cabeça ao governo. Sétima maior bancada na Câmara, o partido fechou questão contra a reforma trabalhist­a, mas 14 dos 30 deputados que votaram ignoraram a determinaç­ão e foram favoráveis ao projeto.

Nesta quinta-feira, o PSB destituiu quatro deputados que presidem órgãos estaduais da legenda devido ao apoio desses parlamenta­res à reforma trabalhist­a. (MARINA DIAS E GUSTAVO URIBE) RANIER BRAGON DANIEL CARVALHO,

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