Folha de S.Paulo

Doria admite mudar arquitetur­a do Pacaembu para viabilizar concessão

Gestão tucana manterá fachada, mas avalia ser possível instalar cobertura e demolir tobogã

- ROGÉRIO GENTILE

Prefeitura considera haver baixa viabilidad­e econômica de estádio para iniciativa privada do jeito como ele está

A Prefeitura de São Paulo está disposta a permitir alterações no projeto arquitetôn­ico do estádio do Pacaembu a fim de viabilizar o plano de passar a sua gestão para a iniciativa privada por meio de um regime de concessão.

Respeitada a fachada monumental, a gestão João Doria (PSDB) entende que é possível, por exemplo, instalar uma cobertura retrátil ou demolir o tobogã, setor da arquibanca­da que substituiu a famosa concha acústica, demolida em setembro de 1969.

Nas próximas semanas, a prefeitura irá lançar um “procedimen­to de manifestaç­ão de interesse”, espécie de concurso de ideias por meio do qual a administra­ção convidará interessad­os a apresentar­em projetos para o estádio.

O propósito é coletar, em 90 dias, sugestões para a modernizaç­ão e a recuperaçã­o da infraestru­tura e propostas de modelo de negócios, de exploração comercial e de melhoria da gestão do estádio.

O projeto vencedor não necessaria­mente será implantado na íntegra, mas servirá para subsidiar o edital de concorrênc­ia para a escolha da empresa que passará a administra­r o Pacaembu.

Como o estádio é tombado, alterações na estrutura deverão ser submetidas previament­e aos órgãos responsáve­is pelo patrimônio histórico (Conpresp e Condephaat). BAIXA RENTABILID­ADE viabilidad­e econômica.

Se, por um lado, seu custo de manutenção é alto (R$ 3,6 milhões por ano), por outro, está subutiliza­do desde que o Corinthian­s inaugurou seu estádio, em Itaquera, na zona leste. Em 2012, houve 73 DANIEL FERNANDES arquiteto, sobre a atual situação do estádio do Pacaembu

“Éum desperdíci­o, tanto financeiro como social

jogos oficiais, contra apenas 30 no ano passado.

Além disso, em razão de uma decisão judicial obtida numa ação da associação dos moradores, é vedada a realização de eventos “não desportivo­s” e “de eventos que sejam prejudicia­is à segurança, ao sossego e à saúde”.

Na concepção da prefeitura, por causa de tudo isso, o desafio é encontrar um modelo que seja, ao mesmo tempo, interessan­te do ponto de vista financeiro para a iniciativa privada e que possa vir a ser aceito pela Justiça.

Um teto retrátil, por exemplo, poderia melhorar a acústica do estádio, de modo que shows não causassem mais ruídos com níveis superiores ao permitido pela legislação, como acontecia antes.

A construção de uma garagem subterrâne­a também ajudaria, na visão da administra­ção, a rentabiliz­ar o empreendim­ento, além de evitar o acúmulo de carros estacionad­os nas ruas da região. ‘DESPERDÍCI­O’ O escritório de arquitetur­a Fernandes Arquitetos Associados participou de uma consulta semelhante realizada na gestão Fernando Haddad (PT) (que acabou engavetada) para a modernizaç­ão e revitaliza­ção do Pacaembu.

O arquiteto Daniel Fernandes diz que é triste ver a atual situação do estádio. “É um desperdíci­o, tanto financeiro como social.” Para ele, é possível implementa­r “um projeto sustentáve­l e que agregue valor à comunidade”.

Fernandes defende que o estádio vire uma arena com diversos ambientes, como cinema e restaurant­es, e que, além de futebol para 25 mil pessoas (a capacidade atual é de 40 mil), abrigue os mais variados tipos de eventos.

Rodrigo Mauro, da Associação Viva Pacaembu, diz que o estádio deveria continuar gerido pelo poder público. “Não precisa dar lucro.”

Para ele, se a transferên­cia da gestão para a iniciativa privada realmente ocorrer, a empresa vencedora terá de ser “criativa” para conseguir se rentabiliz­ar sem ferir os limites legais definidos “pelo tombamento, pela questão sonora de área estritamen­te residencia­l e pela vedação a eventos não esportivos”. “A lei precisa ser cumprida.” ou serviços deverão ser privatizad­os, concedidos ou enquadrado­s em parcerias público-privadas (PPPs)

Empresas

A Câmara de São Paulo aprovou, na quarta (26), projeto que cria duas empresas responsáve­is pelas futuras desestatiz­ações de equipament­os públicos

Exemplos de privatizaç­ão

(venda para empresas) Complexo do Anhembi Autódromo de Interlagos

– – Exemplos de concessão

(transferên­cia temporária) Terminais de ônibus Gestão do Bilhete Único Parques Ciclovias Serviço funerário Zeladoria (varrição de rua)

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A lei precisa s er cumprida

 ?? Joel Silva- 7.mar.2017/Folhapress ?? Vista do estádio do Pacaembu, que será concedido por Doria (PSDB); gestão admite alterações em projeto arquitetôn­ico
Joel Silva- 7.mar.2017/Folhapress Vista do estádio do Pacaembu, que será concedido por Doria (PSDB); gestão admite alterações em projeto arquitetôn­ico

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