Folha de S.Paulo

Vítima de câncer em SP, assistente social cria casa de apoio a pacientes

Inaugurado há seis anos, local oferece alimentaçã­o e hospedagem a pacientes que fazem tratamento no Hospital de Câncer de Franca

- FERNANDA TESTA

FOLHA,

Terça-feira, 11h30. Uma fila de pacientes com câncer se forma no corredor de uma casa no bairro Jardim do Éden, em Franca, a 400 km de São Paulo. Num caderno, escrevem nome completo e cidade de origem. Dali, seguem para o refeitório, onde têm almoço e espaço para descansar.

É assim o dia a dia do Iansa (Instituto de Apoio Nossa Senhora Aparecida), casa de apoio criada pela assistente social Eliane Aparecida Bonini, 49. Inaugurado há seis anos, o local oferece alimentaçã­o e hospedagem a pacientes que fazem tratamento no Hospital de Câncer de Franca e a seus acompanhan­tes. São mais de mil pessoas atendidas a cada mês.

Diagnostic­ada com câncer de mama em 2010, a assistente social passou por uma cirurgia, além de sessões de quimiotera­pia. Durante o tratamento, conheceu a realidade dos pacientes e teve a ideia de montar a instituiçã­o.

“Um mês depois de fazer a cirurgia, veio a ideia da casa de apoio. Franca não tinha nenhum local que oferecesse assistênci­a a pacientes com câncer. Falei com meu marido, e dias depois já estávamos procurando um imóvel próximo ao hospital para alugar”, conta.

Bonini notou que inúmeros pacientes da região de Franca em tratamento no Hospital de Câncer não tinham condições para arcar com despesas como hospedagem e alimentaçã­o na cidade. Assim, configurou a casa como local para oferecer refeições —café da manhã, café da tarde, almoço e jantar— e pernoite.

“As primeiras pessoas que atendemos foram pacientes que tinham abandonado o tratamento porque não tinham lugar para ficar em Franca. Começamos então a divulgar nosso trabalho, e, aos poucos, a casa foi ganhando frequentad­ores.”

No primeiro ano de funcioname­nto, a instituiçã­o foi mantida exclusivam­ente pela família de Eliane. Atualmente, os recursos vêm de doações da comunidade, bazares e eventos para angariar fundos. São seis funcionári­os registrado­s e cerca de 100 voluntário­s, entre psicólogos, médicos e nutricioni­stas.

Além das refeições e da hospedagem, a casa oferece ainda oficinas de artesanato, bordado, pintura, confecção de perucas, entre outras.

Diagnostic­ada em 2015 com câncer de mama, a aposentada Radige de Oliveira Sato, 64, diz que encontrou na casa apoio para a cura da doença. “Desde a primeira vez que estive no Iansa, fui muito bem atendida. Sinto-me em casa todas as vezes que venho ao instituto. Não sei o que faria sem eles”, afirma.

Paciente com câncer de pele, a balconista Sandra Maria Domingos, 55, afirma que o convívio com as pessoas no instituto tem sido importante para enfrentar a doença.

“Desde o início do meu tratamento, há um ano, a casa me acolheu. Encontrei com eles a força que procurava e os considero minha segunda família”, diz. FUTURO No fim de 2016, empresário­s do município doaram um terreno para o Iansa.

O objetivo é de ter sede própria e poder ampliar ainda mais o atendiment­o.

“Estamos procurando parcerias e reestrutur­ando nossos eventos para arrecadar recursos para a obra. Meu grande objetivo é ser referência em atendiment­o na área de assistênci­a social para pessoas com câncer”, diz Eliane.

Para a assistente social, o vínculo afetivo estabeleci­do com os pacientes é mais importante que oferecer teto ou comida. “Agradeço a Deus por ter tido o câncer. Se não fosse a doença, talvez eu nunca tivesse desenvolvi­do este projeto. Sou grata por fazer algo que ameniza a dor que essas pessoas passam. Digo a eles que passei pelo mesmo e venci e que todos podem vencer também ”, declarou.

 ?? Joel Silva/Folhapress ?? A assistente social Eliane Aparecida Bonini, 49, na casa de apoio a pacientes com câncer
Joel Silva/Folhapress A assistente social Eliane Aparecida Bonini, 49, na casa de apoio a pacientes com câncer

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil