Mães chimpanzés disseminam técnica elaborada para beber água
Elas é que espalharam uso de musgo como esponja, diz estudo
Animais também têm uma forma de “cultura”. Eles aprendem a usar ferramentas e passam a técnica para os colegas. Um novo estudo sobre uma ferramenta adquirida por chimpanzés —usar musgo como esponja para beber água em vez de usar folhas— demonstrou agora o papel fundamental que as mães têm no aprendizado da prole.
Foi graças ao ensinamento das mães que a nova técnica, vista na natureza pela primeira vez em 2011, começou a se disseminar em um grupo de chimpanzés de Uganda.
A descoberta é da pesquisadora Noemie Lamon, da Universidade de Neuchâtel, Suíça, e da Estação de Conservação de Campo de Budongo, Uganda, e de mais três colegas. A pesquisa foi publicada na última edição da revista científica americana “Science Advances”.
A técnica foi primeiro observada no macho alfa do grupo em novembro de 2011 e, a princípio, se disseminou por animais próximos a ele. Mas o estudo do mesmo grupo em 2014 mostrou que a técnica tinha se espalhado, e os pesquisadores atribuem isso ao papel das mães.
A equipe diz acreditar que a descoberta pode ter implicações para a evolução da transmissão cultural nos humanos.
“Minhas descobertas podem lançar luz sobre os padrões de transmissão dos primeiros seres humanos, usando lascas de pedra, por exemplo, e pode ajudar a compreender a transmissão cultural humana precoce”, disse Lamon à Folha.
A equipe também construiu um experimento e usou um modelo estatístico para tentar entender o fenômeno do uso de musgo como ferramenta para extrair água de um poço de argila.
O poço de argila consiste em dois buracos de água no fundo na parte inferior de duas árvores. As cavidades foram preenchidas com água da chuva enriquecida com minerais. Os cachos de musgo (da espécie Orthostichella welwitschii) foram coletados em áreas de pântano dentro da área natural dos chimpanzés e pendurados em árvores ao redor do poço. Não foram fornecidas folhas porque o local está localizado em uma área densa em árvores, com uma grande variedade delas regularmente usadas pelos chimpanzés para fabricar as “esponjas de folha”.
Em 2011 o uso de musgo só foi visto em oito indivíduos; em 2014 o número era de 17, embora a esponja de folha continuasse a ser a técnica predominante.