ANÁLISE Jonathan Demme revelou um mundo que é regido por forças incontroláveis
FOLHA
Pode-se pensar em Jonathan Demme, morto nesta quarta (26), o ganhador do Oscar por “O Silêncio dos Inocentes”. E lá, com Oscar ou não, já encontramos o insurrecto. Aquele que faz de Hannibal, o Canibal, o verdadeiro herói de seu filme: aquele que come imbecis com todos os requintes. Por notável que continue a ser, não é o único.
Demme começou com Roger Corman, o que é um bom indício para diretores de sua geração. Praticamente todos passaram pela “escola Corman”. Aprenderam a fazer muito com pouco dinheiro. E, quando tinham dinheiro, faziam com que aparecesse na tela.
Dinheiro não havia quando fez “Celas em Chamas” (1974), filmeco admirável de presídio de mulheres, desses que o público letrado quer distância. Mas o talento já estava lá.
Já em “O Abraço da Morte” (1979), Demme entrava pela porta de serviço num tema delicado: o antissemitismo e a vingança contra os crimes de guerra. Uma estranha vingança, como verá quem assistir ao filme, ainda de pequena produção, mas em que ele contou já com Roy Scheider e Janet Margolin. Não é tão pouco assim.
Logo em seguida vem o intrigante “Melvin e Howard” (1980). Sendo que Howard, no caso, é Howard Hughes. Acidentado de moto tem a vida salva pelo modesto Melvin. Quando morre, Hughes teria deixado sua interminável fortuna para Melvin. Mas, claro, haverá quem conteste o direito do pobre Melvin.
Apenas estes três filmes já estabelecem um percurso e uma obsessão: o mundo é não apenas múltiplo como regido por forças múltiplas e incontroláveis.
Isso ressurgirá em registro mais cômico no belo “Totalmente Selvagem” (1984) e talvez menos intenso em “De Caso com a Máfia” (1988), antes de reaparecer, justamente, em “O Silêncio dos Inocentes”, em que toda a lógica é subvertida e cabe ao supercriminoso Hannibal desvendar um crime, por intermédio de uma agente aprendiz do FBI.
Mas, atenção, a jovem é inteligente.