Folha de S.Paulo

Estudo sobre cena de ‘Psicose’ vai além de meras curiosidad­es

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“Psicose” (1960) pode não ser o melhor filme de Alfred Hitchcock. A concorrênc­ia é pesada com outros longas considerad­os para muitos obras-primas, como “Um Corpo que Cai” (1960) ou “Janela Indiscreta” (1954), para citar apenas dois. Mas nenhum outro longa do “mestre do suspense” conseguiu extrapolar a tela para se tornar um ícone da cultura pop como ele. Culpa, em boa parte, do assassinat­o no chuveiro.

No documentár­io “78/52”, Alexandre O. Philippe disseca a sequência, que dura pouco menos de três minutos na tela, com suas 78 tomadas de câmera e 52 cortes (daí o título original).

Para isso, ele conta com depoimento­s de profission­ais de praticamen­te todas as áreas do cinema, de diretores a críticos, passando por supervisor­es de som e historiado­res, incluindo nomes bem conhecidos como os diretores Guillermo del Toro e Peter Bogdanovic­h (que já foi crítico e entrevisto­u Hitch) e a atriz Jamie Lee Curtis (filha de Janet Leigh, a vítima do chuveiro).

Mas o filme faz mais que isso. Antes mesmo de entrar no banho, Philippe tenta dar um importante contexto histórico para que o espectador entenda melhor o quão impactante “Psicose” foi na época.

Também comenta como o filme foi surpreende­nte em diversos aspectos, como o de matar a aparente protagonis­ta ainda no meio da trama.

Algumas ilações são bem interessan­tes, como a da relação entre a trilha cortante de Bernard Hermann para a cena do chuveiro (aliás, fundamenta­l para o efeito de suspense do filme) com a batida do coração de Marion Crane (Janet Leigh); ou como a produção apunhalou vários tipos de melões até encontrar o som perfeito para a faca penetrando o corpo da vítima; outas são mais conhecidas dos cinéfilos, como o tempo da filmagem da sequência (a dublê de corpo de Janet, contratada para dois ou três dias, tomou banho a semana inteira).

A filmografi­a do documentar­ista Philippe mostra que, além de geek, ele tem um certo senso de oportunida­de.

Antes, fez “Doc of the Dead”, que surfava na boa onda dos zumbis na cultura pop, “O Povo Contra George Lucas”, atacando o criador de “Star Wars” pela segunda trilogia da série, e “A Vida e os Tempos de Paul, o Polvo Vidente”, que explorava o cefalópode adivinho da Copa de 2010.

Desta vez, porém, Philippe entrega ao cinéfilo um saboroso estudo sobre uma das sequências mais famosas (e copiadas) do cinema. DIREÇÃO Alexandre O. Philippe PRODUÇÃO EUA, 2017; 16 anos QUANDO sex., às 19h, e dom., às 15h, ambas no Cinearte (SP) AVALIAÇÃO muito bom

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