Folha de S.Paulo

Brasil mira superímã de turbina e motor elétrico

País tem a segunda maior reserva da matéria-prima de magnetos usados em equipament­o eólico e carro ‘limpo’

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O Brasil tem a segunda maior reserva do mundo de minérios de terras raras, base para a produção de ímãs superpoten­tes usados em turbinas eólicas e motores de carros elétricos. Mas nenhuma empresa nacional ainda é capaz de produzi-los.

Agora, o país tenta entrar nesse mercado com um projeto da CBMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração), uma empresa privada, em parceria com o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológic­as de São Paulo).

Em andamento desde 2014, a empreitada prevê o domínio de todas as etapas da confecção do magneto. O investimen­to total já passa dos R$ 13 milhões, divididos entre CBMM, IPT e Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial).

O projeto está na segunda fase: a construção de uma liga com neodímio e praseodími­o (minérios de terras raras), ferro e boro, um dos últimos passos antes da obtenção do ímã.

Na etapa anterior o minério bruto, retirado dos rejeitos de uma barragem da CBMM, em Minas Gerais, foi transforma­do em uma barra de metal composta por neodímio e praseodími­o, a primeira do tipo já feita no país.

O mercado é dominado pela China, dona da maior reserva mundial da matéria-prima. “Os chineses não se apoiaram apenas nos recursos naturais, mas fizeram muito investimen­to ao longo dos anos 1980 para dominar a tecnologia de fabricação desses ímãs e chegar ao topo”, diz Fernando Landgraf, engenheiro metalurgis­ta e presidente do IPT.

Em 2011, conta Landgraf, os preços do produto tiveram um pico. Vários países estruturar­am iniciativa­s para a produção dos ímãs temendo a dependênci­a da China, entre eles a Austrália, que fabrica os ímãs em escala industrial, mas conta com uma reserva pelo menos quatro vezes menor que a brasileira, hoje estimada em 22 milhões de toneladas.

“A ideia é começar atendendo ao mercado interno, que deve crescer devido à produção de turbinas eólicas, para depois partir para o externo”, afirma Landgraf. REAPROVEIT­AMENTO A CBMM tem o foco na exploração de nióbio, usado na indústria siderúrgic­a, mas o rejeito da extração desse elemento contém altos índices dos minérios de terras raras.

“A extração mineral, uma das etapas mais caras, já foi feita. Isso diminui o custo da exploração”, afirma João Batista Ferreira Neto, engenheiro metalurgis­ta do IPT e coordenado­r do projeto.

De acordo com o superinten­dente de produção da CBMM, Clóvis Antonio de Faria Sousa, a empresa não pretende produzir os ímãs.

A companhia será a fornecedor­a dos minérios, oriundos do rejeito, para que outras empresas fabriquem os magnetos com a tecnologia desenvolvi­da no projeto.

Segundo Ferreira Neto, do IPT, a última fase deve contar também com o apoio da UFSC (Universida­de Federal de Santa Catarina), que tem prática na produção de ímãs, e da WEG, empresa que produz turbinas eólicas.

A projeção da Global Wind Energy Council, associação internacio­nal do setor de energia eólica, é de que até 2020 a capacidade para gerar energia por meio dos ventos ultrapasse os 65 gigawatts (GW) em todo o mundo —quase o dobro da produção registrada em 2013, por exemplo.

São utilizados cerca de 600 quilograma­s desses ímãs para cada megawatt (MW) de energia eólica, de acordo com Ferreira Neto. “O Brasil pode se tornar uma alternativ­a para o mercado mundial”, diz. (EVERTON LOPES BATISTA)

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