Folha de S.Paulo

Expansão do sistema hidrelétri­co passa por séria dificuldad­e

- JOSÉ GOLDEMBERG

FOLHA

O Brasil tem um sistema de produção e uso de energia que lhe é muito favorável: 45% renovável, graças a um amplo parque de usinas hidroelétr­icas, programas de combustíve­is renováveis como o Proalcool e energia eólica abundante e em expansão.

Os restantes 55% da energia consumida vêm do petróleo e gás produzidos no país. O Brasil é quase autossufic­iente, exceto pela importação de gás da Bolívia e de parte da hidroelétr­ica do Paraguai.

Além disso, a rede elétrica nacional é integrada, o que é notável num país de dimensões continenta­is. Onde estão, pois, os desafios?

O primeiro deles é que a expansão do sistema de usinas hidroelétr­icas passa por sérias dificuldad­es porque os novos projetos se encontram na Amazônia, apesar do enorme potencial hidroelétr­ico ainda não aproveitad­o.

A oposição de alguns setores ambientali­stas à construção de usinas hidroelétr­icas com reservatór­ios tem custos e consequênc­ias gigantesca­s que precisam ser avaliados. Uma usina como Belo Monte, que inunda uma área pequena, gera muito menos energia do que poderia, o que prejudica milhões de pessoas que moram a milhares de quilômetro­s de distância. Em compensaçã­o, beneficia alguns milhares de pessoas que vivem em torno da represa. Estes custos e benefícios precisam ser comparados.

A dificuldad­e em expandir o sistema hidroelétr­ico leva à adoção do uso de combustíve­is fósseis para a geração de energia, o que agrava a poluição e tem custo mais elevado. E ainda: reservatór­ios de água serão essenciais à medida que aumenta a geração das energias solar e eólica. em combinação com hidroelétr­icas resolve este problema: quando a luz brilha ou quando venta, poupa-se a água das usinas hidroelétr­icas. Elas são as “baterias” naturais mais eficientes de que dispomos.

A expansão da geração eólica no Nordeste e no Norte é uma boa solução, mas deve ser acoplada ao uso de reservatór­ios de água. Se necessário, poder-se-ia construir usinas reversívei­s.

O Operador Nacional do Sistema tem se guiado pela ideia de otimizar o fornecimen­to de energia elétrica com o menor custo, o que na prática levou ao esvaziamen­to precoce dos reservatór­ios de água em muitas ocasiões. Isto precisa mudar. A otimização deve se basear em princípios de sustentabi­lidade e não apenas custo.

Finalmente, a produção de petróleo e gás no pré-sal a grandes profundida­des precisa se adaptar a um mundo em que o petróleo não custe mais US$ 100 ou US$ 150 o barril. Ele se estabilizo­u em torno de US$ 50 por barril —e tudo indica que este custo não vai aumentar porque o seu consumo está caindo nos EUA e Europa devido aos avanços tecnológic­os nos automóveis. JOSÉ GOLDEMBERG

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