Romance não foi unanimidade; ‘50 anos bastavam’, teria dito Borges
DE BUENOS AIRES
Nem todo mundo adorou “Cem Anos de Solidão”. Seu crítico mais mordaz foi o polemista e conterrâneo Fernando Vallejo, 74. Em seu livro “Peroratas”, o autor de “A Virgem dos Sicários” publicou um texto rejeitado por uma revista literária colombiana.
Nele, Vallejo desmoraliza a obra, por meio de algumas passagens, como a abertura, que diz: “Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo.” Diz Vallejo: “Muitos anos depois de quê, Gabito? Tem de explicar [...].”
O cineasta Pier Paolo Pasolini também considerou o romance superestimado. Num artigo de 1973, o italiano escreveu que a obra soava a algo batido, “escrito com muita vitalidade, mas ainda dentro do tradicional maneirismo barroco latino-americano”.
Outro dos que criticavam a obra era o argentino Jorge Luis Borges. Embora não tendo escrito essa frase em lugar algum, pessoas do meio literário e dizem que o autor de “O Aleph” achava “Cem Anos” enfadonha — segundo contam , ele dizia “que com 50 anos já dava para contar toda a história”.
“Essa é uma das tantas coisas sobre Gabo que ficarão entre a realidade e a ficção. A frase é bem borgiana, mas ninguém sabe afirmar se é real ou não”, diz Ezequiel Martínez, diretor da Bibliotaca Nacional de Buenos Aires. (SC)