Folha de S.Paulo

Cem anos da Vila Maria Zélia

- PALMIRA PETRATTI TEIXEIRA

Na rua dos Prazeres, no bairro Belém (zona leste de São Paulo), há um espaço da memória paulistana: a Vila Maria Zélia, retrato de uma época e de uma forma de ocupação do espaço urbano.

A vila seguiu o modelo de outros núcleos operários predominan­tes no período: casas edificadas no interior de um terreno, separadas da via pública por um portão. Na entrada, um grande jardim com coreto e igreja.

Era cortada por seis ruas principais e quatro transversa­is, tendo ao fundo o rio Tietê. Contava com 178 casas de seis diferentes tamanhos.

Quem visita hoje o local tem a impressão de voltar no tempo. Jardim, árvores e flores acolhem crianças e adultos ao sol. A capela São José compõe o ambiente de serenidade.

No entanto, um olhar mais atento para os lados reduz o encanto: os imóveis, de uso coletivo e hoje pertencent­es ao INSS, sofrem o desgaste do não uso e abandono. Ainda assim, mantêm a atmosfera mágica da Vila Maria Zélia. Parafrasea­ndo a conhecida canção, alguma coisa acontece no coração de quem ali chega.

O idealizado­r do projeto foi Jorge Street, empresário moderno e pioneiro, nascido no Rio de Janeiro em 1863. Médico, cursou humanidade­s na Alemanha à época da ascensão dos partidos socialista­s e das primeiras leis trabalhist­as bismarkian­as.

Entrou para a atividade industrial por herança paterna e, em 1904, adquiriu a fábrica Santana (SP), iniciando a expansão da Companhia de Tecidos de Juta, produtora de sacaria.

Street se destacou como liderança por sua capacidade de conciliar questões patronais e operárias. Defendia o direito dos trabalhado­res à sindicaliz­ação e à greve, como maneira de evitar antagonism­os entre as classes, e cristaliza­va a figura do capitalism­o mais desenvolvi­do no país.

Sua obra mais expressiva foi a criação do complexo fábrica e vila operária. À fábrica higiênica, ventilada e equipada, associavam-se ações visando melhorias na qualidade de vida do trabalhado­r. O casal Street e Zélia Frias supervisio­nava moradias, educação e saúde.

O cuidado com as crianças nas creches e escolas era primoroso. A família Street participav­a das festas populares, natalinas e religiosas com os trabalhado­res da vila, fato que espantava os demais industriai­s, sensibiliz­ava os moradores e irritava o movimento operário, o que possibilit­ava ao empreended­or um controle da força de trabalho e de seus possíveis conflitos.

Em 1923, Street, com dificuldad­es financeira­s, renunciou à direção da companhia, porém saldou seus dé- bitos em 1925. A fábrica e a vila tiveram trajetória­s peculiares.

O complexo mudou de proprietár­ios: Scarpa, Guinle e Estado. A fábrica serviu de presídio político em 1936 e 1937 e, em 1969, as casas foram vendidas aos trabalhado­res pelo sistema BNH (Banco Nacional da Habitação).

A Vila Maria Zélia é símbolo das relações de trabalho no Brasil. Conhecida pela harmonia arquitetôn­i- ca de inspiração inglesa e pelas condições dignas de moradia, tornouse um local querido por todos que ali viveram. “Era uma maravilha”, sintetizou a tecelã Cinta Amantero.

Cem anos depois, Street, esse empreended­or moderno e consciente, tem muito ainda a dizer. A vila resiste como seu memorial ideológico. Impõe-se hoje a reflexão sobre os espaços públicos pertencent­es ao INSS, sem uso utilitário e em ruína.

Esse patrimônio industrial precisa ser restaurado e integrado à comunidade na forma de centros e bens culturais. Uma justa homenagem a Street e aos operários brasileiro­s. PALMIRA PETRATTI TEIXEIRA,

Os traficante­s e bandidos devem estar dando risadas homéricas. Em breve vão ter ar mas novinhas e de ótima qualidade. Ou alguém tem dúvidas de que essas importadas vão todas cair nas mãos deles?

GEONALDO SICVA

Esse protecioni­smo tupiniquim tem nos levado ao atraso. As empresas nacionais não investem em novas tecnologia­s porque contam com a proteção dos políticos, que quase sempre não se importam com a qualidade, mas com a propina paga. Vejam a indústria naval e a petrolífer­a.

LUIS F. PACHECO RIBEIRO

Agropecuár­ia

Causou espanto o artigo de Nabil Bonduki. O ex-vereador do PT ignorou o fato de o prefeito João Doria ter reunido equipe com rara experiênci­a em gestão privada e pública. Um time que trabalha árdua e diuturname­nte e tem expressivo­s resultados, como o fim da fila de exames com o Corujão da Saúde. Um governo que conseguiu aliar empresário­s à sociedade civil para colaborar com São Paulo e que construiu, ouvindo a sociedade, um plano de metas consonante com as premissas de boa gestão definidas pela ONU.

AURÉLIO NOMURA,

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