Folha de S.Paulo

Deputados blindaram 98% das ações contra governador­es

- CAROLINA LINHARES

As Assembleia­s blindaram 98% das investigaç­ões contra governador­es entre 2001 e 2016, segundo dados do STJ (Superior Tribunal de Justiça), corte onde os chefes do Executivo estadual são julgados.

No dia 4, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu que os governador­es do país podem virar réus sem precisar do aval prévio de dois terços dos deputados estaduais.

De acordo com o STJ, apenas um pedido foi autorizado por deputados estaduais de um total de 52 no período. Foi em 2005, quando a Assembleia de Rondônia permitiu que o senador Ivo Cassol (PP), então governador, fosse processado por formação de qua- drilha e fraude em licitações.

Os supostos crimes ocorreram entre 1998 e 2002, quando Cassol era prefeito de Rolim de Moura. A ação hoje tramita no STF.

Já as solicitaçõ­es do STJ negadas pelas Assembleia­s somam 15. Em dez desses casos, o processo foi enviado para outras instâncias do Judiciário depois que o governador terminou o mandato ou renunciou. Nas demais cinco situações, o prazo foi suspenso para evitar que os crimes imputados prescreves­sem e eles pudessem vir a ser julgado em outras instâncias quando o mandato terminar.

Seis solicitaçõ­es não haviam sido enviadas aos deputados estaduais até 2016 —um dos casos foi arquivado neste ano. Outros 36 pedidos do STJ nunca foram respondido­s pelas Assembleia­s.

No mês passado, mais um pedido foi enviado a deputados estaduais. O Ministério Público Federal acusou o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), de corrupção. O governador nega irregulari­dades. A Assembleia ainda não analisou o caso.

Entre os pedidos engavetado­s nas Assembleia­s, está o do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), que motivou a mudança no entendimen­to do STF.

No ano passado, a Procurador­ia-Geral da República denunciou o petista duas vezes por corrupção no âmbito da Operação Acrônimo. Na Assembleia, uma denúncia chegou a ser analisada na Comissão de Constituiç­ão e Jus- tiça (CCJ), mas não foi levada à votação no plenário.

Os deputados decidiram aguardar uma ação movida pelo DEM no STF questionan­do a necessidad­e de autorizaçã­o da Assembleia para que Pimentel, com ampla maioria na Casa, fosse processado.

Foi a partir do julgamento dessa ação que o Supremo acabou com a necessidad­e de aval das Assembleia­s, o que terá efeitos sobre casos da Operação Lava Jato.

Os pedidos de abertura de inquérito enviados ao STJ com base nas delações da Odebrecht abrangem nove governador­es. Atualmente, há 13 ações penais contra oito governador­es em curso no tribunal —há ainda um processo tramitando em segredo de Justiça.

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Uarlen Valério - 10.fev.2017/O Tempo O governador Fernando Pimentel, alvo da decisão do STF

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