Presidente alega ter ‘direito absoluto’ de partilhar dados
Comey, que conduzia a investigação sobre a interferência russa na eleição e os possíveis elos de assessores de Trump com o governo de Vladimir Putin durante a campanha, foi demitido no dia 9.
A justificativa oficial da Casa Branca para sua saída foi a decisão de Comey, tomada em julho de 2016, de não recomendar o indiciamento da ex-secretária de Estado Hillary Clinton pelo uso indevido de e-mails enquanto estava à frente da pasta.
No entanto, o próprio presidente afirmou em entrevista à rede NBC, na última semana, que pensou “nessa coisa da Rússia” quando decidiu demitir o diretor.
Segundo o jornal, Comey escreveu o memorando detalhando sua conversa com Trump imediatamente após o encontro, e o documento integra um arquivo que o então diretor do FBI resolveu criar para registrar o que considerou um esforço do governo de influenciar a investigação.
Na quinta (11), o “New York Times” publicou que, em um jantar em janeiro, Trump pediu a “lealdade” de Comey, que respondeu prometendo “honestidade”. Na sexta, o presidente sugeriu que pode ter gravado suas conversas com o ex-diretor do FBI e fez um “alerta” para que Comey pensasse nisso antes de vazar informações à imprensa.
A declaração de Trump levou à comparação com as gravações de conversas, feitas pelo ex-presidente Richard Nixon no Salão Oval. A revelação sobre as fitas levou à queda de Nixon, no escândalo do Watergate.
DE WASHINGTON
Um dia depois de o “Washington Post” publicar que o presidente Donald Trump teria revelado informações sigilosas ao chanceler russo, Sergei Lavrov, o republicano afirmou ter “direito absoluto” de compartilhar informações com Moscou.
Segundo o “New York Times”, os dados de inteligência sobre uma potencial ameaça dos terroristas do Estado Islâmico ligada ao uso de laptops em aviões foram fornecidos por Israel. Integrantes do governo ouvidos pelo “Post” tinham dito que Trump repassara as informações a Lavrov sem aval do país parceiro.
“Como presidente, quis compartilhar com a Rússia (em um encontro abertamente marcado na Casa Branca), o que tenho todo o direito de fazer, fatos relacionados a terrorismo e segurança em aviões. Razões humanitárias, e além disso eu quero que a Rússia intensifique seu combate contra o EI e o terrorismo”, escreveu.
O que Trump fez não é ilegal. Especialistas em defesa questionaram, no entanto, se o presidente teria sido negligente ou ingênuo.
Mais tarde, o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, H. R. McMaster, disse que o presidente não comprometeu “de forma nenhuma” informantes nem métodos usados pela inteligência dos EUA em sua conversa com Lavrov e o embaixador Sergey Kislyak.
Em 11 minutos de entrevista coletiva, McMaster repetiu dez vezes que a conduta de Trump foi “apropriada”, mas se recusou a confirmar se o presidente revelou informação sigilosa.
“O que o presidente debateu com o chanceler foi completamente apropriado para aquela conversa e é coerente com o compartilhamento rotineiro de informações entre o presidente e qualquer líder com o qual ele se relacione”, afirmou.
Diante da possibilidade de que a revelação comprometesse a segurança de colaboradores dos EUA, McMaster afirmou que Trump desconhecia a fonte da informação compartilhada.
“O presidente nem sabia de onde essa informação veio. Ele não foi informado sobre a fonte nem o método que nos levou a ela.”
No entanto, McMaster sugeriu que Trump pode ter revelado aos russos a cidade ocupada pelo EI de onde partiram as informações — uma das principais preocupações dos integrantes do governo que vazaram a conversa ao jornal.
“Todos sabem qual é o território que o EI controla. Se tivessem que dizer de onde acham que a ameaça veio, vocês provavelmente seriam capazes de listar algumas cidades.” (IF)