Em identificar e punir abusos também piora a situação.
Folha - O sr. diz que vivemos numa recessão da democracia no mundo. O que o leva a fazer essa afirmação?
Larry Diamond - Nos últimos dez anos, a democracia no mundo começou a cair, de acordo com medições como a da [ONG] Freedom House. E os regimes autoritários projetam hoje uma autoconfiança maior que no passado.
Os fatores comuns mais visíveis nos casos de retração da democracia são má governança, corrupção e abuso de poder. Isso faz com que a população perca a fé na democracia. Uma justiça que falha Quais as perspectivas para a democracia no mundo?
Há um desejo humano natural de ter liberdade, dignidade, seus direitos protegidos. São coisas difíceis de se garantir em um regime autoritário. Por isso, não acredito que esses regimes serão bem-sucedidos no longo prazo.
Mas democracia precisa governar bem, ter boa performance tanto no campo econômico quanto na hora de atingir objetivos que a população demanda em temas como a responsabilidade de agentes O sr. classifica líderes como Putin, Maduro, Le Pen e Trump como populistas. O que define um populista?
Populista é alguém que faz apelos diretos à população sem mediação de instituições como partidos, o congresso e a imprensa. Busca ter uma relação direta com a massa. Todos os movimentos populistas, à esquerda e à direita, não toleram a divergência. Há hoje no Brasil um sentimento de desilusão com o O sr. afirma que regimes autoritários hoje são mais resilientes, mas coloca em dúvida a estabilidade do regime chinês. Por quê?
O capitalismo crônico tem deixado marcas na China. Há ali uma corrupção massiva que leva a distorções econômicas que a tornam mais vulnerável a crises econômicas. Isso pode minar a estabilidade do regime.
Além disso, o desenvolvimento econômico tende a aumentar níveis de educação e informação, levando a mais contestação. Para permanecer estável, o sistema precisa se adaptar e permitir algum grau de pluralismo.