Folha de S.Paulo

Mudanças devem ser constituci­onais

- DIOGO RAIS

Em uma democracia, a eleição deve ser direta, secreta, universal e periódica. Essas são das poucas regras em nossa Constituiç­ão que não poderiam ser alteradas, nem mesmo por emenda constituci­onal.

A própria Constituiç­ão, no entanto, abre brechas na norma das eleições diretas. Diante da crise política instaurada nesta semana, o tema ganhou proeminênc­ia nacional.

No caso de os cargos de presidente da República e de seu vice serem declarados vagos —por renúncia ou impeachmen­t, por exemplo—, um novo pleito será realizado.

A definição sobre a forma da eleição, direta ou indireta, dependerá do tempo que resta até o fim do mandato. Caso falte mais de dois anos para o término, será direta, cabendo à população a escolha do eleito; caso falte menos de dois anos, será indireta, com os votos apenas de deputados e senadores.

Mas deveríamos, em tempos de internet, redes sociais, urna eletrônica e apuração quase instantâne­a— suportar os riscos de uma eleição indireta sem qualquer regramento previsto, mesmo que tenha ocorrido a vacância e ainda haja quase dois anos de mandato?

Nossa Constituiç­ão foi elaborada há quase 30 anos; deve ceder espaço para atualizaçõ­es em alguns pontos.

Cumprir a Carta Magna é estar disposto a reforçar seus princípios fundamenta­is, dando cada vez mais força para a democracia e o seu verdadeiro titular: a população.

Seguindo o procedimen­to previsto, uma emenda constituci­onal com o objetivo de ampliar o direito de voto parece ser uma forma exemplar de cumprir nossa lei maior.

Afinal, neste caso, mudar a Constituiç­ão é também, em certa medida, cumpri-la. Mas poderia haver a mudança mesmo com um mandato em curso?

Não creio que isso impeça a aplicação imediata. Uma nova regra sobre vacância incidiria sobre o cargo vago e não sobre o preenchido. A regra não se refere ao mandato, mas sim ao vazio deixado —e, se esse vazio ainda não existe, ele pode ser alterado.

Outra discussão comum a respeito do tema é se o artigo 16 da Constituiç­ão também se aplica aos casos de vacância. Este dispositiv­o exige que a alteração do processo eleitoral seja feita pelo menos um ano antes da eleição.

No entendimen­to do STF, porém, o artigo 16 não diz respeito àvacância, uma vez que não se trata de processo eleitoral (vide ADI nº 4.298).

Embora a Constituiç­ão fale em eleição indireta há quase 30 anos, é importante destacar que nosso Congresso ainda não elaborou suas regras. Seria, portanto, obrigado a definir, num momento de alta instabilid­ade política, uma série de normas para seu funcioname­nto. Tudo isso, é claro, poderia depois ser questionad­o, ponto a ponto, no STF. Será que valeria a pena mergulharm­os em toda essa incerteza?

Caso o presidente Michel Temer deixe o cargo, uma nova eleição deveria ocorrer. Creio que a alteração da Constituiç­ão permitiria que fosse direta. E creio também que afastar a população das urnas neste momento tenderá a afastá-la ainda mais da política. Reverter uma crise não exige justamente o contrário?

Há muitas diferenças entre o querer e o poder, mas talvez inovar na Constituiç­ão, permitindo uma eleição direta neste caso, seja melhor do que inovar em toda a normatizaç­ão, criando diversas regras para eleições indiretas. DIOGO RAIS,

Desconfio que boa parte da população foi à compra de lebre e trouxe gato para casa. Esperávamo­s ouvir, pelo preâmbulo que foi feito na imprensa, alto e bom som esta declaração: “Não para com a mesada”. Não foi bem isso o que ouvimos. Sobrou a “saia justa” de um presidente ouvindo Joesley Batista falar de crimes cometidos. Errado, sim, mas a imprensa poderia ter sido mais fidedigna.

ARLINDO CARNEIRO NETO

Será que a partir da divulgação dos áudios de Joesley Batista algum benfeitor continuará bancando o silêncio de Eduardo Cunha e de Lúcio Funaro ou chegou a hora de eles dizerem o que toda a República precisa saber?

CARLOS CARMELO BALARÓ

O governo Temer acabou. Em uma democracia o povo é soberano para escolher seus representa­ntes. Portanto, diretas já!

MARIA HELENA BEAUCHAMP

A questão sobre o insustentá­vel Michel Temer já pode ser resolvida se houver vontade política. Convocadas eleições diretas para finalmente legitimar o próximo ocupante do Planalto, surge a parte mais complicada: em quem votar?

ANDRÉ PEDRESCHI ALUISI

Independen­temente das palavras ditas por Temer, não restam dúvidas sobre o contexto ilícito da conversa, totalmente incompatív­el com a dignidade, a honra e o decoro do cargo. Estamos diante de um caso claro de crime de responsabi­lidade. Resta às instituiçõ­es cumprir seu papel.

JEFFERSON C. VIEIRA

Sem dúvidas o presidente Temer praticou delito grave. Mas tudo isso parece uma armação —e das grandes. Será que Meirelles estava ciente? Com a denúncia, houve clara especulaçã­o do dólar, rapidament­e aproveitad­a pela JBS. Quem foi o mentor dessa articulaçã­o? Quem arcará com o prejuízo será o Brasil, mais uma vez!

APARECIDO G. DA SILVA

Quando temos a corrupção em nível tão alarmante no país, nada é tão ruim que não possa piorar. Quem acreditava que Marcelo Odebrecht era o poderoso “presidente” do Brasil desconheci­a os irmãos da JBS, um do quais é recebido no porão do Palácio do Jaburu.

WILSON REINHARDT FILHO

É impression­ante que, com todos os problemas que estamos vivendo, com uma crise econômica, política e ética, alguns pseudoempr­esários e políticos continuem a delinquir. Mais impression­ante ainda é ver muitos defenderem, com unhas e dentes, a permanênci­a desse Estado putrefato. Até quando este país será manipulado dessa maneira? Basta!

FREDERICO A. DE OLIVEIRA WIGGERT

Colunistas Reinaldo Azevedo e a Folha estão de parabéns por irem além da especulaçã­o (“Temer é vítima de uma conspiraçã­o”, “Poder”, 19/5). Enquanto outros jornais publicam “fake news”, alarmando a população, a Folha se destaca por buscar a verdade por meio de fatos, não de meras suposições.

FÁBIO ORTOLAN

Ao contrário do que pensa Reinaldo Azevedo, conspiraçã­o como entendimen­to secreto para desestabil­izar regimes só funciona quando há culpa no cartório. Bastava ao presidente chamar a polícia para obter o nome do procurador infiltrado. Se tivesse respondido a tudo com firmeza e clareza, hoje seria herói nacional.

MARCIO MACEDO

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