Folha de S.Paulo

GOVERNO ENCURRALAD­O Procurador vê indícios de três crimes em atuação de Temer

Obstrução da Justiça, corrupção e organizaçã­o criminosa são citados por Janot

- CAMILA MATTOSO MARINA DIAS RUBENS VALENTE

Para a PGR, diálogo indica que presidente deu aval a pagamentos para silenciar Eduardo Cunha e Lúcio Funaro

No pedido de abertura de investigaç­ão feito ao STF (Supremo Tribunal Federal) sobre o presidente Michel Temer, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, vê indícios dos crimes de obstrução de Justiça, corrupção passiva e organizaçã­o criminosa com base na delação dos irmãos Batista, do grupo JBS.

Os empresário­s entregaram aos procurador­es uma gravação em que Temer conversa com Joesley Batista. Para a PGR, o diálogo indica que o executivo relatou, e o presidente deu aval, a pagamentos para o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o doleiro Lúcio Funaro. Os dois já estavam presos pela Lava Jato.

Janot afirma que todo o material colhido na delação mostra que a propina servia para mantê-los em silêncio.

“Depreende-se do material colhido que o pagamento de propinas ao ex-deputado federal Eduardo Cunha e ao doleiro Lúcio Funaro, mesmo depois dos mesmos estarem presos, tem, se não como motivação única, mas certamente principal, garantir o silêncio deles ou, ao menos, a combinação de versões”, escreve Janot. “Depreende-se dos elementos colhidos o interesse de Temer em manter Cunha controlado.”

Janot também diz que “um dos delitos em tese cometidos é o de corrupção passiva, o qual, como é sabido, pressupõe justamente o exercício de cargo, emprego ou função pública por parte do agente”.

No documento, o procurador afirma que Temer e o senador Aécio Neves (PSDBMG) agiram “em articulaçã­o” para impedir avanços da Lava Jato. O tucano e o deputado Rodrigo Loures (PMDBPR), ambos afastados de seus cargos por Edson Fachin, são alvos da mesma investigaç­ão.

Em sua decisão, Fachin diz que, ainda que a instauraçã­o do inquérito “se destine a apurar os fatos sobre os quais recai suspeita”, “isso não implica qualquer responsabi­lização do investigad­o”. Afirma ainda que não cabe ao relator se manifestar sobre o mérito.

A PGR cita medidas legislativ­as e o controle de indica- ção de delegados da polícia que conduzem inquéritos como meio usados para controlar a operação.

No mesmo documento, há trecho da gravação de uma conversa entre Joesley e Aécio em que o tucano afirma que teria tentado organizar um esquema com Temer e Alexandre de Moraes, ministro do STF e e ex-ministro da Justiça, para influencia­r a indicação de delegados nas investigaç­ões da Lava Jato.

“O que vai acontecer agora [após delação da Odebrecht], vai vir inquérito sobre uma porrada de gente, caralho, eles aqui são tão bunda mole, que eles não notaram o cara que vai distribuir os inquéritos para os delegados. Você tem lá, sei lá, dois mil delegados na Polícia Federal, aí tem que escolher dez caras. O do Moreira, o que interessa a ele, sei lá, vai pro João, o do Aécio vai pro Zé. O outro filho da puta vai pro, foda-se, vai pro Marculino, nem isso conseguira­m terminar,

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Ueslei Marcelino/Reuters Em rua de Brasília, comboio do presidente passa sobre pichação que diz “Fora Temer”

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