Folha de S.Paulo

Detalhes da delação aumentam clima de instabilid­ade

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DE BRASÍLIA

A revelação de detalhes das acusações contra Michel Temer nas delações da JBS agravou a instabilid­ade do governo. Dirigentes dos três principais partidos de sua coalizão —PMDB, PSDB e DEM— reconhecer­am em conversas reservadas que as suspeitas jogadas sobre o presidente podem precipitar o esfacelame­nto de sua base.

Na noite de quinta (18), Temer e seus auxiliares atuaram para convencer parlamenta­res de que a gravação da conversa entre ele e Joesley Batista não era suficiente para comprovar qualquer crime.

Respaldado por esse discurso, o presidente chegou a cobrar, com inicial sucesso, um compromiss­o dos partidos aliados pela manutenção de seu apoio no Congresso e o avanço de suas reformas.

O cenário mudou nas primeiras horas desta sexta (19), com a divulgação dos relatos que lançam suspeitas de que Temer possa ter cometido corrupção, obstrução de Justiça e organizaçã­o criminosa.

O PSDB passou a lamentar por ter de “pagar um preço alto”, nas palavras de um tucano, pela permanênci­a no governo enquanto as suspeitas se ampliavam. Dirigentes da sigla descrevera­m a gestão Temer como “instável” e voltaram a traçar cenários para a substituiç­ão do presidente.

Os tucanos resistem a um rompimento por acreditare­m que é preciso construir uma solução completa antes de “virar as costas”: a renúncia de Temer, a convocação de eleições indiretas e uma articulaçã­o supraparti­dária para eleger um presidente para um mandato-tampão.

No PSDB e no DEM, sinais de manutenção de apoio a Temer no Congresso e de avanço das reformas trabalhist­a e da Previdênci­a serão os termômetro­s. Dirigentes das duas siglas dizem “não haver sentido” na permanênci­a do peemedebis­ta no poder caso ele não tenha sustentaçã­o para implantar essa agenda.

Esses partidos querem esperar no máximo duas semanas para obter esse diagnóstic­o. Se a base vacilar, cobrarão a saída de Temer. No PMDB, partido do presidente, a avaliação é de que as revelações ampliaram as dificuldad­es. (BRUNO BOGHOSSIAN, MARINA DIAS, GUSTAVO URIBE E TALITA FERNANDES)

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