Folha de S.Paulo

GOVERNO ENCURRALAD­O ‘Parece que foi coisa preparada’, afirma defesa do presidente

Advogado diz que Joesley Batista teria tentado induzir o diálogo com Temer para, com a gravação, forçar a delação

- MÔNICA BERGAMO

Defensor afirma que os benefícios que o empresário obteve com a delação são ‘inusitados e inusuais’ FOLHA

O advogado Antonio Claudio Mariz de Oliveira, que defende Michel Temer na área criminal, afirma que a gravação da conversa entre o empresário Joesley Batista, da JBS, e o presidente “parece que foi coisa preparada”.

Segundo Mariz, que se reuniu com Temer na noite de quinta (18) e nesta sexta (19), o empresário foi ao Palácio do Jaburu, onde se encontrou com o presidente e gravou a conversa, “para provocar [o presidente] e fazer uma delação premiada”.

Por esse raciocínio, Batista teria tentado induzir o diálogo com Temer, usando depois a gravação como moeda de troca para que o Ministério Público Federal aceitasse fazer um acordo de colaboraçã­o com os donos da JBS.

“Ele lançou uma infâmia sobre o presidente e foi embora do país”, afirma. Joesley teve permissão das autoridade­s para viajar a Nova York.

“Quem está examinando essa delação com cuidado chega à conclusão de que os benefícios [que Joesley obteve com a delação] são inusitados e inusuais. Dificilmen­te um delator porta passaporte. Eles não apenas mantiveram o documento como estão mudando o domicílio fiscal [para os EUA]. Causaram prejuízos institucio­nais e morais ao Brasil mas tiveram ganhos, comprando dólar na baixa e comprando ações da própria empresa por preços mais baixos”.

A JBS comprou dólar na véspera do vazamento dos áudios da delação da empresa. No dia seguinte, o preço da moeda explodiu o Brasil. A CVM (Comissão de Valores Mobiliário­s) investiga a operação.

“Eles receberam salvo-conduto por todos os crimes e delitos que cometeram. Tiveram como pena a devolução de uma parte irrisória do dinheiro [que dizem ter gastado em propina], tudo isso com o beneplácit­o das autoridade­s”.

Mariz afirma que entrará com uma petição no STF (Supremo Tribunal Federal) pedindo cópias do inquérito que foi instaurado para investigar Temer pelos crimes de obstrução da Justiça, corrupção e organizaçã­o criminosa.

Ele acionará também a OAB e a Procurador­ia-Geral da República sobre “um fato grave”: a presença de um ex-procurador da Lava Jato na equipe do escritório de advocacia Trench Rossi e Watanabe, que negocia acordo de leniência com o

ANTONIO C. MARIZ DE OLIVEIRA

advogado de Michel Temer no momento em que a JBS faz a colaboraçã­o e vai advogar para a JBS. É normal isso?”, questiona Mariz.

Eles receberam salvocondu­to por todos os crimes que cometeram. Tiveram como pena a devolução de uma parte irrisória do dinheiro, tudo isso com o beneplácit­o das autoridade­s”

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Eduardo Anizelli/Folhapress Presidente Temer deixa o Palácio do Jaburu, nesta sexta (19), em direção ao Planalto

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