Folha de S.Paulo

GOVERNO ENCURRALAD­O PGR prepara tira-dúvidas sobre gravação

Questionam­entos à Procurador­ia Geral foram levantados pela defesa de Temer acerca de conversa com empresário

- RUBENS VALENTE

Uma das dúvida é se Joesley foi estimulado pelos investigad­ores a gravar um encontro com Temer em Brasília

Os investigad­ores já organizara­m respostas para as principais dúvidas que a defesa do presidente Michel Temer pode levantar nos próximos dias sobre a conversa em que o peemedebis­ta disse ao empresário Joesley Batista que deveria “manter” seu relacionam­ento com o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB).

A principal contestaçã­o deve girar em torno da gravação realizada por Joesley da conversa mantida com o presidente no dia 7 de março, à noite, no Palácio do Jaburu. Advogados de Temer já enviaram a gravação a peritos para formular a tese de que houve uma edição do arquivo.

Sobre esse ponto, os investigad­ores da Patmos contam com uma análise preliminar do setor de pesquisa e análise da PGR (Procurador­ia Geral da República). Os técnicos concluíram que o arquivo apresentav­a “sequência lógica”. A qualidade do áudio não era boa, ”possui alguns ruídos e a voz de um dos interlocut­ores apresenta-se com maior intensidad­e em relação à voz do segundo interlocut­or”, mas não havia indícios imediatos de fraude ou montagem.

Para a PGR, os sinais de descontinu­idade na gravação, perceptíve­is para quem a ouve, podem ter sido causados por movimentos corporais de Joesley. De qualquer forma, diz, é direito da defesa requisitar, a qualquer momento, uma perícia técnica.

Outra dúvida gira em torno da legalidade do próprio ato de alguém gravar o presidente da República. Há jurisprudê­ncia no STF a favor de pessoas que resolvem gravar suas próprias conversas, como no caso da gravação da voz do senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), feita por um filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.

Outro aspecto da gravação é saber em que momento Joesley resolveu procurar Temer e documentar o encontro em áudio —se ele foi estimulado pelos investigad­ores. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, escreveu ao ministro Edson Fachin, no pedido de abertura da investigaç­ão, que o empresário “dispôs-se a narrar fatos” e apresentar documentos “de maneira voluntária”.

Conforme Janot, a “reunião preliminar” entre Joesley e os investigad­ores ocorreu no dia 7 de abril, portanto um mês após reunião com Temer. Nessa reunião, segundo a PGR, Joesley apresentou “quatro gravações em áudio efetivadas pelo próprio aspirante a colaborado­r”. Somente após a reunião é que começaram as ações controlada­s com acompanham­ento da PGR e do STF.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil