Folha de S.Paulo

MUITO mais?”. O grupo, porém, não fez convocação para atos.

- BRUNO CARAZZA

CONVOCAÇÃO Entidades ligadas à esquerda como Frente do Povo Sem Medo, União Nacional dos Estudantes, Central Única dos Trabalhado­res, Frente Brasil Popular e Levante Popular da Juventude convocaram atos em várias cidades do país pedindo a saída de Temer e a antecipaçã­o de eleições diretas.

Em São Paulo, a manifestaç­ão está marcada para ter início às 15h no vão livre do Masp, na avenida Paulista.

Pelo menos 30 outras cidades do país tiveram convocaçõe­s do tipo.

ESPECIAL PARA A FOLHA

A assinatura dos acordos de delação premiada entre a Procurador­ia-Geral da República e executivos da Odebrecht e da JBS deixaram às claras como o Brasil funciona segundo o modelo de Daron Acemoglu e James Robinson, autores do livro “Por que as Nações Fracassam?”.

As “colaboraçõ­es premiadas” da Operação Lava Jato têm o potencial de exterminar praticamen­te toda a geração de políticos que emergiu com a Nova República.

No entanto, as condições oferecidas aos executivos e às suas empresas podem estar poupando uma das engrenagen­s desse sistema.

Joesley e Wesley Batista e mais cinco executivos pagarão R$ 225 milhões em troca de perdão judicial. No caso de Joesley, a multa será de R$ 110 milhões. Fazendo jus a sua fama de empresário de sucesso nas negociaçõe­s com o Estado, o valor será parcelado em dez prestações anuais corrigidas pela inflação, sem juros e com a primeira parcela a ser depositada apenas em 1º de junho de 2018!

Detalhe importante: o patrimônio pessoal declarado de Joesley é de R$ 1,3 bilhões

Por mais louvável que seja o trabalho da Lava Jato em desnudar a podridão do sistema político brasileiro, as condições oferecidas pela PGR para os executivos parecem muito descalibra­das.

Mesmo que a empresa concorde em pagar R$ 11,2 bilhões pedidos pela PGR para celebrar acordo de leniência, estamos tratando de um grupo que teve seu faturament­o multiplica­do por 40 (!) nos últimos anos à custa de operações do BNDES, benefícios fiscais, crédito público subsidiado e outros incentivos.

É difícil aferir qual seria o desempenho da JBS e a evolução das finanças pessoais de Joesley e Wesley se não houvesse a política de “campeões nacionais” implementa­das pelo governo desde meados da década passada.

De acordo com as regras de funcioname­nto do nosso capitalism­o de compadrio, o sucesso de boa parte de nossas grandes empresas foi construído mediante corrupção, sonegação de impostos e lavagem de dinheiro.

No melhor estilo “rent seeking”, nossos empresário­s investem em “relações institucio­nais” em vez de bens de capital, tecnologia e produtivid­ade da mão de obra.

Ao concordar em oferecer multas baixas (em relação ao seu patrimônio e faturament­o), condições favoráveis de pagamento e imunidade para os executivos para obter informaçõe­s sobre os políticos, a PGR faz uma opção clara pela estratégia de terra arrasada com a classe política.

O problema é que, ao aliviar dessa maneira a punição aos criminosos pertencent­es à elite econômica, a PGR oferece uma péssima sinalizaçã­o para o comportame­nto empresaria­l no futuro.

Os acordos de delação têm transmitid­o a impressão de que, uma vez pegos praticando crimes, basta aos corruptore­s confessar e entregar os nomes de agentes públicos que deixaram-se corromper para ter a pena aliviada considerav­elmente.

E esse pode ser o legado nefasto deixado pela Operação Lava Jato: a de que, do ponto de vista do empresário corruptor, o crime compensa. Independen­temente de quais políticos estiverem no poder.

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