Folha de S.Paulo

CVM instaura 5 processos contra atuação da JBS

- FLAVIA LIMA DANIELLE BRANT DANYLO MARTINS DE SÃO PAULO

Algo descartado pelo mercado até poucos dias atrás, o risco de um novo rebaixamen­to da nota de crédito do Brasil voltou a ser discutido por economista­s em razão da crise política, intensific­ada com a delação de Joesley Batista.

Para o Deutsche Bank, é seguro dizer que o risco de novos rebaixamen­tos aumentou significat­ivamente, ainda que seja cedo para concluir algo sobre o destino das reformas previdenci­ária e trabalhist­a.

Economista do banco japonês Nomura, João Pedro Ribeiro não enxerga uma disposição imediata para um rebaixamen­to, mas diz que, se as chances de aprovação da reforma da Previdênci­a continuare­m pequenas, a queda na classifica­ção se tornará uma possibilid­ade bem real.

O Brasil está dois níveis abaixo do grau de investimen­to (o selo de bom pagador, espécie de reconhecim­ento de que o país é um lugar seguro para os investidor­es) nas três principais agências: Fitch, S&P e Moody’s.

A diferença é que Fitch e S&P mantêm perspectiv­as negativas para o país, enquanto a Moody’s alterou a pers- 10h20 - Bolsa brasileira aciona o circuit breaker*, após Ibovespa recuar 10,47% 17h - Dólar fecha com valorizaçã­o de 8,16%, para R$ 3,390 pectiva da nota para estável no início do ano, em um primeiro sinal de confiança de que o risco de novos reveses para o país fora afastado.

Economista­s tinham a avaliação de que Fitch e S&P aguardavam um encaminham­ento mais claro das reformas para, possivelme­nte, melhorar a sinalizaçã­o. E até os mais pessimista­s descartava­m um novo rebaixamen­to.

A Fitch informou nesta sexta (19) que manteve a nota de 17h15 - Bolsa desaba 8,80%, aos 61.597 pontos, maior queda desde 22.out.2008 crédito do Brasil em grau especulati­vo, citando incertezas na recuperaçã­o econômica, preocupaçõ­es políticas e fraqueza estrutural das finanças.

Já a Moody’s disse que as alegações envolvendo Michel Temer prejudicam a perspectiv­a de crédito, ameaçando paralisar ou reverter o momento positivo na economia.

Marcos Mollica, gestor da Rosenberg Investimen­tos, diz que as delações farão as agências olhar com mais cuidado a situação do país, mas não são suficiente­s para rebaixar a nota. Se a reforma da Previdênci­a não for aprovada, porém, a avaliação é outra: “Há risco de rebaixamen­to, sem dúvida”.

Para James Gulbrandse­n, chefe de investimen­tos para a América Latina da NCH Capital, gestora americana especializ­ada em mercados emergentes, a probabilid­ade de as reformas continuare­m neste momento é muito baixa e o estrangeir­o está mais focado na resolução da corrupção do país. “Se as alegações forem provadas e Temer não sair do cargo, o investidor vai resgatar o investimen­to dele e não vai voltar logo.”

Nesta sexta-feira, o mercado recuperou parte das perdas registrada­s no pregão de quinta-feira (18). O dólar comercial fechou o dia com queda de 3,92%, para R$ 3,257. A Bolsa subiu 1,69%, para 62.639,30 pontos.

DE SÃO PAULO

A CVM (Comissão de Valores Mobiliário­s) confirmou na noite desta sexta (19) que investiga a JBS por operações com dólar e ações no mercado de capitais, em meio às informaçõe­s de que a empresa teria usado informaçõe­s privilegia­das para lucrar com o caos instalado no mercado com as delações do empresário Joesley Batista divulgadas na quarta (17).

São cinco os processos abertos entre quinta e sexta. A autarquia exige esclarecim­entos sobre notícias envolvendo a delação dos controlado­res da empresa.

Também apura indícios de insider trading —quando a empresa usa informaçõe­s privilegia­das para operar— em negociaçõe­s com contratos de dólar futuro e ações da JBS.

O Banco Original, da J&F Participaç­ões —dona da JBS—, também é investigad­o por operações no mercado de derivativo­s.

A decisão ocorre após suspeitas de que a empresa teria lucrado com a compra de dólares e a venda de ações antes da divulgação das delações de Joesley. Na quinta (18), a Bolsa caiu 8,8% e o dólar subiu 8%.

Em nota, a JBS afirmou que as compras de dólares tiveram como objetivo minimizar efeitos que uma variação muito brusca da moeda americana poderia ter sobre sua dívida e suas operações.

A empresa ressaltou ainda que as movimentaç­ões seguem “alinhadas à sua política de gestão de riscos e proteção financeira”.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil