Folha de S.Paulo

‘O mercado quer alguém, não sei quem, com capacidade para tocar as reformas’

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DE SÃO PAULO

Não está claro como as delações que atingiram o presidente Michel Temer afetarão a capacidade de articulaçã­o política do governo, mas há a percepção de que as reformas trabalhist­a e da Previdênci­a podem ficar para depois das eleições presidenci­ais de 2018, diz o diretor de pesquisas para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos. Segundo ele, o mercado não personific­a a questão. “Isso não é um ‘love affair’.” (FL) de articulaçã­o política diminui? Depende. Estamos falando das primeiras 48 horas do evento. Se a governabil­idade tiver sido diluída de maneira irreversív­el, reduz-se a chance de aprovar as reformas ou de lutar por uma reforma com conteúdo robusto. Mas, num cenário alternativ­o, nada garante que o que vem depois [do governo Michel Temer] consiga tocar essas reformas.

Há a possibilid­ade de que elas só venham a acontecer depois de uma nova eleição, com mandato conferido nas urnas, e possivelme­nte se tenha que esperar até 2019. personific­a a questão. Isso não é um “love affair”.

O que o mercado quer é governabil­idade —alguém, não sei quem, que tenha capacidade de tocar as reformas. Se essa capacidade é melhor com Temer ou sem Temer, o tempo dirá. A incerteza acaba impactando o próprio Congresso, que fica hoje mais focado em outros temas. No mínimo, essas reformas vão sair com algum atraso, o que em si já é um custo. Como ficaria a economia sem as reformas ou se a sua discussão no Congresso for adiada por muito tempo?

Ficaria pior. As reformas são críticas para conter a expansão do gasto público. Sem elas, o teto do gasto vai ser difícil de ser observado. Hoje, há uma equipe econômica determinad­a a manter o fiscal bem disciplina­do. Até que ponto a perda de governabil­idade vai erodir essa determinaç­ão no dia a dia? As incertezas sobre o futuro das reformas podem afetar as expectativ­as para a alta do PIB neste ano?

Esperava alta de 1,1%, e isso embutia um segundo semestre razoável. A crise política pode contaminar até parte do segundo trimestre. Não há dúvida de que um cenário diferente para câmbio, juros, indicadore­s de confiança e possivelme­nte o fiscal muda o cenário. Mudará muito mais 2018 e 2019, mas contamina 2017. A ver.

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