Folha de S.Paulo

Líder dos EUA inicia pelo Oriente Médio 1º giro no exterior

Donald Trump visitará Arábia Saudita e Israel antes de seguir para o Vaticano e para reuniões da Otan e do G-7

- DANIELA KRESCH

Agenda inclui encontro com Mahmoud Abbas; americano precisará se esforçar para consertar gafes, dizem experts

Após cinco meses de governo e sob uma onda recente de escândalos que ameaçam seu carg, o presidente da maior potência mundial começa, neste sábado (20), seu primeiro giro internacio­nal.

Donald Trump escolheu Oriente Médio (Arábia Saudita, Israel e território­s palestinos), Itália e Vaticano para começar essa viagem, sem esconder a tentativa de agradar gregos e troianos —ou muçulmanos, judeus e cristãos.

Trump também participar­á das reuniões da Otan (a aliança militar ocidental a qual chamou de “obsoleta” durante a campanha eleitoral) em Bruxelas, no dia 25, e da cúpula do G-7 na Sicília (26 e 27).

Ali, terá que convencer líderes dos outros seis países mais ricos do mundo de que os EUA querem se engajar na comunidade internacio­nal apesar do slogan “America First” usado nas eleições.

No Oriente Médio, a intenção é demonstrar fortes vínculos com seus aliados na região que, como ele, se preocupam com a crescente influência do Irã. Acima de tudo, Trump quer se diferencia­r do antecessor, Barack Obama, que assinou um acordo com Teerã sobre seu programa nuclear em 2015. Na campanha, Trump prometeu “rasgar” o tratado, do qual fazem parte mais cinco países ocidentais.

Se quiser remendar sua relação com a região, o americano terá, no entanto, que usar um tato diplomátic­o que não lhe é comum. Sobretudo após o mal-estar criado pelo decreto emitido em janeiro, e depois derrubado pela Justiça, que proibia cidadãos de sete países de maioria muçulmana de entrarem nos EUA. ACENOS Em sua primeira passagem pelo Oriente Médio, em 2009, Obama preferiu o Egito. Já a primeira parada de Trump é na Arábia Saudita, berço do islã e onde ficam as cidades mais sagradas para os muçulmanos, Meca e Medina.

“O que Trump está tentando dizer é que temos que colaborar com o islã moderado. Os sauditas, por mais que não sejam moderados, são aliados dos EUA e de países que lutam contra o Estado Islâmico e a influência do Irã”, diz Anat Hochberg-Marom, especialis­ta em terrorismo. “Trump quer colocar na mesa que muçulmanos, judeus cristãos precisamos nos unir de forma racional e prática”.

Riad foi enfeitada com bandeiras dos EUA e imagens de Trump e do rei Salman num sinal de boas-vindas ao presidente americano e à primeira-dama, Melania, e à filha e ao genro de Trump, Ivanka e Jared Kushner, que se tornou uma espécie de embaixador extraofici­al para a região.

Os sauditas querem ouvir de Trump que ele não despreza o islã como um todo, mas apenas o terrorismo islâmico, e assinar acordos econômicos na área de segurança.

Jerusalém também está enfeitada para receber Trump na segunda (22) e na terça (23). Mas, mesmo que o americano encontre refúgio no governo aliado do partido conservado­r Likud, não conseguirá se esquivar das críticas a seu zigue-zague de promessas em relação a Israel.

Lá, ele também pisará em ovos. Até agora, por exemplo, não saiu do papel a promessa de transferir a embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém —desafiando a posição da ONU, que determinou, em 1947, que a cidade fosse internacio­nalizada.

À revelia, os israelense­s encaram Jerusalém como capital, enquanto os palestinos exigem sua parte oriental como capital de seu Estado.

No dia 14 passado, o secretário de Estado Rex Tillerson disse que Trump avalia a mudança da embaixada “com cuidado” e levará em conta posições dos dois lados.

Os ultranacio­nalistas de Israel, que festejaram a eleição do republican­o, agora esbravejam diante de sua hesitação, como a afirmação recente de um assessor presidenci­al de que o Muro das Lamentaçõe­s não faria parte de Israel e sim da Cisjordâni­a.

Sob esse clima, é difícil prever se Trump ressuscita­rá o processo de paz entre Israel e os palestinos como almeja.

Antes de Bruxelas, Trump faz uma parada no Vaticano para uma audiência com o papa Francisco, que prometeu “ser sincero” com o americano. “Não podemos ignorar o encontro com o papa. Há nele grande importânci­a simbólica”, afirma Anat Hochberg-Marom. Banquete com a família real da Arábia Saudita e assinatura de acordos com o país Reuniões bilaterais com países da região e jantar com 50 líderes de países majoritari­amente islâmicos Reunião com o primeiro ministro israelense, Binyamin Netanyahu Reunião com o líder palestino Mahmoud Abbas Encontro com o papa Francisco Reuniões com Emmanuel Macron, líderes da Otan e líderes da União Europeia Reunião do G7, na Sicília Discurso final e partida da Itália para Washington

 ?? Hamad I Mohamad/Reuters ?? Balão pintado com a bandeira dos EUA decora Riad antes da chegada de Donald Trump
Hamad I Mohamad/Reuters Balão pintado com a bandeira dos EUA decora Riad antes da chegada de Donald Trump

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