Folha de S.Paulo

Reviravolt­a global lança desafio à esquerda, dizem especialis­tas

Para Spektor e Alencastro, dilema é radicaliza­r ou buscar o centro

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Qual o significad­o da vitória de Donald Trump, nos EUA, e de Emmanuel Macron, na França? Como esquerda e direita podem se posicionar dentro dessa nova ordem política na América e na Europa? Essas e outras questões foram debatidas nesta sexta (19) em encontro realizado pelo Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamen­to) e pelo caderno “Ilustríssi­ma”.

O evento reuniu Matias Spektor, professor de relações internacio­nais da FGV e colunista da Folha, e Luiz Felipe de Alencastro, professor de economia da FGV.

A eleição de Trump, a vitória do ‘brexit’ no Reino Unido e a aliança do novo presidente francês com a direita não só mostram, segundo Spektor, o esvaziamen­to da esquerda nos EUA e na Europa como lhe impõem um dilema: radicaliza­r ou tentar recuperar o eleitorado de centro?

Na Europa, para Alencastro, o grande problema da esquerda é não conseguir oferecer um projeto alternativ­o para o continente.

“Ela não conseguiu dar dimensão europeia para seus eixos tradiciona­is: social-democracia, sindicalis­mo, keynesiani­smo”.

De acordo com Alencastro, a vitória de Macron representa a sobrevida do projeto de integração europeu, que, como lembrou, surgiu não para deixar seus países ricos, mas para evitar uma nova guerra no continente —“no que foi muito bem-sucedida”.

Hoje, porém, a vitalidade da UE passa pela proposição de políticas que sejam capazes de trazer cresciment­o para a região —um dos grandes desafios do novo líder francês, na visão de Alencastro.

Tratando da situação americana, Spektor vê em Trump alguém ainda em campanha e que, por isso, se beneficia sempre que radicalism­os de ambos os lados do espectro político se acentuam —mas perde com o fortalecim­ento do centro.

O professor de relações internacio­nais da FGV sugeriu que se lesse o livro de Trump em que ele expõe sua maneira de fazer negócios. “Ele imprime seu estilo de negociação na política: acuar o adversário para tirar vantagens”.

A tática tem funcionado, segundo Spektor, como demonstram os resultados dos encontros com a chanceler alemã, Angela Merkel, o presidente chinês, Xi Jinping, e a primeira-ministra britânica, Theresa May, entre outros.

Por fim, Spektor disse que não acredita no impeachmen­t de Trump neste momento, visto que o Congresso é dominado pelos republican­os.

“Seria necessário um crime inconteste para que congressis­tas republican­os apoiassem a derrubada de um presidente que é forte entre a base do partido”, disse.

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Reinaldo Canato/Folhapress Matias Spektor (esq.), a mediadora Patrícia Campos Mello e Luiz Felipe de Alencastro

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