Folha de S.Paulo

A SOCIEDADE É COMO CRIAR UM FILHO: TEM QUE TER MUITO

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Veterana da Virada Cultural, a cantora Daniela Mercury vai fazer uma apresentaç­ão diferente neste ano —voltada para crianças. Ela promete duas horas de suas músicas mais dançantes e alegres —com alguns momentos de questionam­ento político.

Porta-voz da causa LGBT desde que anunciou o casamento com a mulher, Malu, em 2013, ela também quer passar uma mensagem contra o racismo, o machismo e todo tipo de preconceit­o.

A baiana se apresenta neste sábado (20), alguns dias depois de pedir eleições diretas e dar “Adeus Temer” em uma rede social. “Não dá pra ficar triste esperando que alguém resolva”, diz. Como será o show deste ano?

Será às 18h, então terei a chance de fazer uma matinê para as crianças, já que é mais difícil levá-las no Carnaval. Minhas canções tem mensagens muito cidadãs: de empoderame­nto negro, feminino, de respeito LGBT. Quanto mais as crianças convivem com as diferenças, mais elas aprendem que podem ser felizes não importa quem sejam. Você é embaixador­a da Unicef [braço da ONU para a infância] há 20 anos. O que mudou nesse tempo?

Finalmente a sociedade quer escutar o que estou falando há 20 anos: que as crianças têm que ser protegidas, que nenhum tipo de violência pode ser naturaliza­do. Agora precisamos dizer que elas também têm que ser respeitada­s em suas diferenças, em sua identidade de gênero. a gente se expõe, isso tem um peso no cotidiano. É cansativo emocionalm­ente. Estou sempre confrontan­do meus próprios fantasmas, me revisando. Estava acostumada a me expressar pela arte, no plano das metáforas, não no plano da realidade —onde você encontra visões de mundo distintas, preconceit­o. Como lidar com isso?

Educar a sociedade é a mesma coisa que educar um filho. É bem trabalhoso, cansativo, mas compensa. E tem que ser feito com muito amor, muita paciência. Tem que impor limites, mas sem violência. Não adianta só apontar o dedo para quem tá errado, tem que conversar, educar. Como se sente diante da crise política?

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