‘Okja’ estreia sob vaias e com falha técnica
Filme despertou desavenças após Netflix anunciar que filme não deve passar no cinema
Alardeado como um dos pomos da discórdia da edição, o filme “Okja” estreou em Cannes sob vaias e uma falha técnica que atrasou em mais de 15 minutos sua sessão de imprensa.
O longa do sul-coreano Bong Joon Ho é uma das duas produções que a Netflix emplacou na competição do festival francês; o outro é “The Meyerowitz Stories”, de Noah Baumbach.
O serviço de vídeo sob demanda despertou cizânia no meiocinematográficoaoanunciar que não tem planos concretos de lançar nenhum dos dois no circuito tradicional.
“Tem espaço para todos na festa” foi a defesa que a atriz Tilda Swinton fez da Netflix. Ela integra o elenco de “Okja”, que mistura atores sul-coreanos e um time hollywoodiano. “Há outras dezenas de filmes que passam aqui [em Cannes] e que, por problemas de distribuição, jamais serão vistos nas salas de cinema.”
Tilda rouba a cena em “Okja”, filme de aventura que sabe aproveitar a excentricidade da atriz britânica. Ela vive a CEO de uma empresa que atua na área dos transgênicos. Na abertura do filme, a personagem explica que a companha criou uma série de superporcos e que os entregou a pequenas fazendas ao redor do mundo com planos de que, no futuro, os enormes bichos virem comida produzida em escala industrial.
Um desses superporcos é o Okja do título (pronuncia-se algo como “ôkdja”), gigantesca fera mansa que mora nas montanhas coreanas sob os cuidados da garotinha Mija (Ahn Seo-Hyun).
Dez anos se passam desde que o bicho vive ali, e a empresa dos transgênicos reaparece para levá-lo de volta. O emissário é o patético apresentador de TV vivido em chave cômica por Jake Gyllenhaal. Cabe a Mija resgatar seu monstro de estimação numa jornada que a levará a cruzar o caminho dos radicais integrantes do Front de Liberação Animal.
O universo monstruoso não é de todo estranho para Bong, diretor de “O Hospedeiro” (2006), que traz a cidade de Seul assolada por uma fera que vem da água.
Na sessão de imprensa, ocorrida na manhã de sexta, a projeção de “Okja” começou desastrosa. Uma falha fez com que o filme fosse exibido numa proporção maior do que o espaço da tela, o que desencadeou vaias entre as quase 2.300 pessoas que lotaram a aguardada exibição.
Quando o problema foi reparado, 15 minutos depois, e o filme reiniciado, parte dos jornalistas não pouparam a Netflix e vaiaram o seu logotipo.
Controvérsia à parte, “Okja” é talvez muito “fofo” para se credenciar como candidato sério à Palma de Ouro. É um filme de objetivos claramente comerciais, embora a condução de Bong mantenha algum grau autoral. VENTOS DO LESTE Vai na contramão do húngaro “Jupiter’s Moon”, de Kornél Mundruczó. Embora o longa não tenha despertado paixões da crítica, ele se insere na elogiada nova onda do cinema do país do Leste Europeu, que levou o principal prêmio do último Festival de Berlim (por “On Body and Soul”, de Ildikó Enyedi), e que revelou “O Filho de Saul”, de László Nemes.
É com esse último que “Jupiter’s Moon” guarda mais semelhanças estéticas. Mundruczó parece querer a todo tempo mostrar virtuosismo, especialmente nos planossequência.
É um filme com forte carga social, mas contado com tons fantásticos: ao desembarcar na Europa, um refugiado sírio descobre ter o poder mágico de levitar, o que o transforma em objeto de exploração nas mãos do médico húngaro que o descobre.
“Meu país foi um dos que deram a pior resposta para o tema dos refugiados”, respondeu o diretor sobre o papel específico da Hungria. “Mas esse é um problema europeu. Estamos todos juntos nessa crise.”
GUILHERME GENESTRETI