Folha de S.Paulo

‘Okja’ estreia sob vaias e com falha técnica

Filme despertou desavenças após Netflix anunciar que filme não deve passar no cinema

- GUILHERME GENESTRETI

Alardeado como um dos pomos da discórdia da edição, o filme “Okja” estreou em Cannes sob vaias e uma falha técnica que atrasou em mais de 15 minutos sua sessão de imprensa.

O longa do sul-coreano Bong Joon Ho é uma das duas produções que a Netflix emplacou na competição do festival francês; o outro é “The Meyerowitz Stories”, de Noah Baumbach.

O serviço de vídeo sob demanda despertou cizânia no meiocinema­tográficoa­oanunciar que não tem planos concretos de lançar nenhum dos dois no circuito tradiciona­l.

“Tem espaço para todos na festa” foi a defesa que a atriz Tilda Swinton fez da Netflix. Ela integra o elenco de “Okja”, que mistura atores sul-coreanos e um time hollywoodi­ano. “Há outras dezenas de filmes que passam aqui [em Cannes] e que, por problemas de distribuiç­ão, jamais serão vistos nas salas de cinema.”

Tilda rouba a cena em “Okja”, filme de aventura que sabe aproveitar a excentrici­dade da atriz britânica. Ela vive a CEO de uma empresa que atua na área dos transgênic­os. Na abertura do filme, a personagem explica que a companha criou uma série de superporco­s e que os entregou a pequenas fazendas ao redor do mundo com planos de que, no futuro, os enormes bichos virem comida produzida em escala industrial.

Um desses superporco­s é o Okja do título (pronuncia-se algo como “ôkdja”), gigantesca fera mansa que mora nas montanhas coreanas sob os cuidados da garotinha Mija (Ahn Seo-Hyun).

Dez anos se passam desde que o bicho vive ali, e a empresa dos transgênic­os reaparece para levá-lo de volta. O emissário é o patético apresentad­or de TV vivido em chave cômica por Jake Gyllenhaal. Cabe a Mija resgatar seu monstro de estimação numa jornada que a levará a cruzar o caminho dos radicais integrante­s do Front de Liberação Animal.

O universo monstruoso não é de todo estranho para Bong, diretor de “O Hospedeiro” (2006), que traz a cidade de Seul assolada por uma fera que vem da água.

Na sessão de imprensa, ocorrida na manhã de sexta, a projeção de “Okja” começou desastrosa. Uma falha fez com que o filme fosse exibido numa proporção maior do que o espaço da tela, o que desencadeo­u vaias entre as quase 2.300 pessoas que lotaram a aguardada exibição.

Quando o problema foi reparado, 15 minutos depois, e o filme reiniciado, parte dos jornalista­s não pouparam a Netflix e vaiaram o seu logotipo.

Controvérs­ia à parte, “Okja” é talvez muito “fofo” para se credenciar como candidato sério à Palma de Ouro. É um filme de objetivos claramente comerciais, embora a condução de Bong mantenha algum grau autoral. VENTOS DO LESTE Vai na contramão do húngaro “Jupiter’s Moon”, de Kornél Mundruczó. Embora o longa não tenha despertado paixões da crítica, ele se insere na elogiada nova onda do cinema do país do Leste Europeu, que levou o principal prêmio do último Festival de Berlim (por “On Body and Soul”, de Ildikó Enyedi), e que revelou “O Filho de Saul”, de László Nemes.

É com esse último que “Jupiter’s Moon” guarda mais semelhança­s estéticas. Mundruczó parece querer a todo tempo mostrar virtuosism­o, especialme­nte nos planossequ­ência.

É um filme com forte carga social, mas contado com tons fantástico­s: ao desembarca­r na Europa, um refugiado sírio descobre ter o poder mágico de levitar, o que o transforma em objeto de exploração nas mãos do médico húngaro que o descobre.

“Meu país foi um dos que deram a pior resposta para o tema dos refugiados”, respondeu o diretor sobre o papel específico da Hungria. “Mas esse é um problema europeu. Estamos todos juntos nessa crise.”

GUILHERME GENESTRETI

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Divulgação A atriz Ahn Seo-Hyun com seu bicho de estimação gigante em cena de ‘Okja’, produção da Netflix que concorre em Cannes
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