ANÁLISE Escândalo mina liderança dos EUA e alimenta plano da Rússia
O caso dos e-mails de Donald Trump Jr. pode ser visto nos EUA como um reality show bizarro, mas que tem consequências. No exterior, os observadores internacionais perguntam se o drama todo pode afetar a capacidade de liderança do país.
O escândalo foi revelado quando muitos estrangeiros ainda estavam em choque pela performance de Donald Trump em sua visita à Polônia e na cúpula do G20.
O republicano atacou seu antecessor, Barack Obama, os serviços de inteligência dos EUA e a mídia, dando cobertura a um governo polonês de tendência cada vez mais autoritária.
Em Hamburgo, Trump foi essencialmente deixado de lado, sem participar de um acordo comercial importante, das discussões climáticas e do comunicado final.
A pergunta mais importante é se o recuo dos EUA em relação ao papel de liderança global sinaliza uma mudança mais duradoura. Quem acompanha os escândalos em Washington se pergunta se eles vão deixar Trump e o país mais fracos.
O encontro estranho do presidente com o líder russo, Vladimir Putin, deixou mais claro que Moscou não quer melhorar a percepção que os outros têm dos EUA.
O americano passou a impressão de ser fraco e perdido. Isso se agravou quando os russos deram declarações para solapar a imagem de Trump, enquanto este parecia fazer de tudo e mais um pouco para agradá-los.
É evidente que o encontro foi apenas o capítulo mais recente de uma missão para enfraquecer os EUA e a aliança atlântica. O caso dos e-mails nos lembra mais uma vez que o objetivo da Rússia não foi eleger Trump, mas enfraquecer os EUA.
Putin se beneficia da paralisia que os escândalos vão causar. E Trump ou pelo menos alguns que o cercam devem estar começando a entender o que acontece com idiotas úteis quando eles deixam de sê-lo.
Mas é claro que o Kremlin não é o único a se beneficiar do recuo da liderança global. O cessar-fogo na Síria negociado em Hamburgo não ajuda na meta de derrotar o Estado Islâmico, mas dá benefícios inequívocos ao regime sírio e ao Irã.
Também os países do Golfo Pérsico estão acelerando a formulação de uma política na qual os EUA parecem não passar de um observador externo e confuso.
A Coreia do Norte sabe que, se tiver mísseis capazes de alcançar os EUA e ogivas nucleares suficientes para frustrar esforços para desarmá-la, sua influência vai crescer imensuravelmente.
Seria ingenuidade deixar de ver que, à medida que o escândalo Trump-Rússia se aprofunda, as potências o encarem como uma força que está impelindo um deslocamento geopolítico.
A mensagem transmitida ao mundo é que a superpotência única do planeta está distraída e com as mãos amarradas. Cabe ao povo americano e aos líderes que emergirem conter os danos.