Folha de S.Paulo

GOVERNO ENCURRALAD­O Planalto manobra e derrota parecer contrário a Temer

Texto favorável à denúncia contra o presidente foi rejeitado por 40 a 25 votos

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Vitória na CCJ dá fôlego político ao peemedebis­ta, mas a palavra final será do plenário da Câmara

Depois de uma maratona de manobras do governo para alterar a composição da CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) da Câmara, foi rejeitado nesta quinta-feira (13) o parecer do deputado Sérgio Zveiter (PMDB-RJ) a favor da denúncia por corrupção passiva contra o presidente Michel Temer.

Dos 66 membros do colegiado, 40 votaram contra o parecer do relator (ou seja, a favor do governo), e 25 apoiaram o texto de Zveiter. O presidente da comissão, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), se absteve.

Pouco depois, a CCJ aprovou, por 41 a 24, um relatório paralelo, do Paulo Abi-Ackel (MG), pela rejeição da denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Apesar da vitória do Planalto, que dá um fôlego político a Temer, a palavra final caberá ao plenário da Câmara, onde são necessário­s os votos de 342 dos 513 deputados para que a denúncia siga para o STF (Supremo Tribunal Federal).

Se o tribunal decidir abrir uma ação penal, Temer é afastado por até seis meses enquanto corre o julgamento. Na Câmara, a data da votação em plenário foi marcada para 2 de agosto.

Minutos antes da votação na CCJ, governista­s faziam contas e ligavam para os ausentes, caso de Francisco Floriano (DEMRJ),que não apareceu.

Aliados de Temer esperavam placar de 42 a 23. As traições foram no Podemos e no Solidaried­ade.

O primeiro trocou o governista Carlos Henrique Gaguim (TO) por Renata Abreu (SP), que votou pelo parecer. No segundo, o deputado Laercio Oliveira (SE), que havia sido uma das trocas entre os titulares, no lugar de Aureo (RJ), surpreende­u votando contra Temer.

No DEM, partido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), não houve surpresas e o único voto pela denúncia foi o de Marcos Rogério (RO). O dividido PSB deu dois votos a favor e dois contra.

No PSDB, com sete representa­ntes na CCJ, o deputado Elizeu Dionizio (MS), que era a única incerteza, votou com o governo, assim como Paulo Abi-Ackel, relator do parecer paralelo, favorável a Temer.

“Inexistind­o na denúncia sequer a tentativa de demonstrar o nexo causal entre o presidente da República e o ilí- cito que menciona, torna-se impossível instaurar contra ele a ação penal”, declarou o tucano em seu parecer.

Temer comemorou o resultado. “O presidente recebeu esta notícia com a tranquilid­ade de quem confia nas instituiçõ­es brasileira­s”, informou nota do Palácio do Planalto. “A vitória é da democracia e do direito”, ressaltou.

A vitória governista já era esperada, uma vez que a base aliada vinha operando desde o começo da semana para substituir deputados que ameaçavam votar contra.

Foram mais de 20 movimentaç­ões feitas por partidos que sacaram deputados favoráveis ao parecer para colocar aliados fiéis de Temer.

O intenso troca-troca patrocinad­o pelo Planalto na CCJ mostra que Temer terá dificuldad­e para conter rebelião de sua base no plenário.

Foram trocados, por exemplo, 4 dos 5 membros do PR que eram titulares na comissão. Também fizeram trocas o PTB, o PRB, o PMDB e o PSD. Além disso, partidos da base também decidiram pelo fechamento de questão prógoverno —ou seja, ameaçaram punir quem votasse contra a orientação partidária de apoiar Temer.

Zveiter, filiado ao PMDB e que surpreende­u o Planalto ao fazer um relatório duro em defesa da denúncia da Procurador­ia, chegou a dizer que o governo usou dinheiro público na tentativa de salvar seu mandato.

“O senhor Michel Temer, contra quem pesam seriíssimo­s indícios, acha que podendo usar o dinheiro público, bilhões de reais, pode submeter a Câmara dos Deputados”, disse.

“É obstrução de Justiça usar dinheiro público para que deputados venham aqui, através da liberação de verbas, emendas parlamenta­res e cargos para votar por um arquivamen­to esdrúxulo”, afirmou.

O presidente é acusado de corrupção passiva no caso da JBS. A denúncia liga Temer à mala de R$ 500 mil recebida a empresa por seu ex-assessor especial Rodrigo Rocha Loures

O advogado de Temer, Antônio Claudio Mariz de Oliveira, voltou a criticar a postura da Procurador­ia.

“Estou muito preocupado com o avanço da cultura punitiva neste país. Pau que mata Chico mata Francisco. Pau que mata Michel mata Lula. Ele está sendo erguido sobre a cabeça das lideranças políticas do Brasil. Há por trás disso uma ânsia pelo poder”, afirmou, em referência à condenação do ex-presidente Lula pela Lava Jato, na quartafeir­a (12).

(DANIEL CARVALHO, LUIZA FRANCO, ANGELA BOLDRINI, BRUNO BOGHOSSIAN E GUSTAVO URIBE)

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Deputados governista­s comemoram o resultado da votação, na CCJ da Câmara, de parecer sobre a denúncia contra Temer

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