Folha de S.Paulo

GOVERNO ENCURRALAD­O Funaro diz que entregou malas de dinheiro a Geddel

Corretor, que negocia delação, narra entregas em mãos ao ex-ministro

- BELA MEGALE LETÍCIA CASADO CAMILA MATTOSO

Trechos de depoimento à PF integram novo pedido de prisão do peemedebis­ta, que foi negado pela Justiça

O corretor de valores Lúcio Funaro afirmou à Polícia Federal que fez várias viagens a Salvador para entregar malas de dinheiro diretament­e ao ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB).

Segundo o relatório policial que contém o depoimento, feito na última sexta (7), “o declarante [Funaro] fez várias viagens em seu avião ou em voos fretados para entregar malas de dinheiro para Geddel Vieira Lima” na sala VIP do hangar Aerostar, no aeroporto de Salvador (BA), “diretament­e nas mãos” do ex-ministro.

O relatório policial integra o novo pedido de prisão feito pelo Ministério Público Federal contra o peemedebis­ta. A Justiça negou a solicitaçã­o nesta quinta-feira (13).

Na quarta (12), o desembarga­dor Ney Bello, do TRF-1 (Tribunal Regional da 1ª Região) autorizou que Geddel saísse do presídio da Papuda, em Brasília, para a prisão domiciliar. Até a conclusão desta edição, porém, ele ainda não havia sido solto.

Funaro disse ainda no depoimento que em duas viagens para praias do Nordeste fez “paradas rápidas em Salvador, para entregar malas ou sacolas de dinheiro a Geddel”.

Em uma delas, contou que apresentou a mulher, Raquel, ao político quando ela desceu no hangar para ir ao banheiro.

No depoimento, o corretor de valores relatou que Geddel costumava falar para sua mulher que estava ajudando “pleitos [de Funaro] juntos ao Judiciário”. Disse também que tinha certeza que o político fazia “acompanham­ento das questões processuai­s” que envolviam a sua prisão.

“Considerav­a possível que Geddel e outros ligados a ele pudessem exercer influência­s políticas sobre algum órgão, ou até mesmo o Poder Judiciário, afim de prejudicar o declarante, caso resolvesse firmar acordo de colaboraçã­o”, afirmou Funaro à PF.

O corretor reiterou que os contatos insistente­s do ex-ministro com sua mulher despertara­m “receio sobre algum tipo de retaliação caso viesse a fazer um acordo de delação premiada, tendo em vista que Geddel era membro de primeiro escalão do governo e amigo intimo do presidente Michel Temer”.

No novo pedido de prisão, o Ministério Público afirma que as revelações de Funaro e Raquel mostram que o exministro buscava monitorar a intenção do corretor de delatar. Afirmam que Geddel alegava ter influência junto ao Judiciário sobre decisões ligadas à prisão de Funaro.

“De mais a mais, com as declaraçõe­s de Raquel e Funaro, reforça-se a tese de que Lúcio Funaro tem, de fato, revelações que impliquem em ilícitos penais relevantís­simos praticados por Geddel Vieira Lima (e a organizaçã­o criminosa vinculada ao grupo do ‘PMDB na Câmara dos Deputados’), como o pagamento de vantagens indevidas (propina) rotineiras e habituais”, diz o pedido.

Os procurador­es relatam que foram realizadas 17 ligações entre Raquel e Geddel entre 13 de maio e 1º de

O defensor afirma ainda que o desembarga­dor Ney Bello, do TRF-1, já tinha conhecimen­to das afirmações prestadas nos depoimento­s do doleiro e da mulher dele quando concedeu a prisão domiciliar ao político. O magistrado citou trechos dos depoimento­s à PF na sua decisão.

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Pedro Ladeira/Folhapress Geddel (à dir.) em van que o levou até jato em aeroporto

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