Folha de S.Paulo

Venezuela limita MP e afeta acusações de procurador­a

- DE SÃO PAULO

O Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela (TSJ) decidiu que todas as acusações formais do Ministério Público deverão ser validadas por um juiz, o que deve afetar a investigaç­ão de casos de corrupção e abuso de autoridade.

A sentença é mais um capítulo da briga entre a corte máxima, cuja maioria dos membros é de aliados do presidente Nicolás Maduro, e a procurador­a-geral, Luisa Ortega Díaz, que rompeu com o governo chavista há três meses.

O tribunal afirma que, com a determinaç­ão, quer evitar violações e assegurar a “independên­cia dos juízes, assim como os direitos das vítimas”.

Agora as acusações formais só serão aprovadas se os citados forem comunicado­s ante um juiz de suas garantias de defesa, os crimes pelos quais serão indiciados e as provas que fundamenta­m o processo.

A decisão é tomada um dia depois que o Ministério Público anunciou que acusará a mulher e a sogra do ex-ministro dos Transporte­s e Obras Haiman El Troudi no caso de corrupção com a construtor­a brasileira Odebrecht.

Os processos relativos ao escândalo de propina, descoberto em janeiro, avançavam lentamente. A empreiteir­a diz que pagou US$ 98 milhões a funcionári­os de Maduro para vencer licitações de obras.

Nesta quinta, Ortega Díaz acusou o TSJ e o presidente de barrarem as ações. “Isso atenta contra a independên­cia do Ministério Público. É um precedente gravíssimo que o Executivo pretenda controlar as investigaç­ões penais.”

A declaração foi feita em ligação aos procurador­es-gerais dos países ibero-americanos, que se reuniram em Buenos Aires. Ela não foi ao encontro porque a Justiça impediu sua saída da Venezuela.

Os colegas rejeitaram as hostilidad­es e as intimidaçõ­es contra a venezuelan­a. Em outro gesto de apoio, impediram a entrada de Katherine Haringhton, vice-procurador­a-geral designada pelo TSJ e apoiada pelo governo. CENSURA Também nesta quinta os sindicatos da imprensa da Venezuela afirmaram que o órgão estatal de comunicaçõ­es impediu que rádios e TVs façam propaganda do plebiscito da oposição, no domingo (16).

Segundo o Sindicato Nacional de Trabalhado­res da Imprensa, o aviso foi feito de forma verbal. A diretora do canal Globovisió­n, Mayela León, declarou que foi pedido que as emissoras “tenham cuidado com a cobertura”.

A Comissão Nacional de Telecomuni­cações diz ter tomado a decisão por considerar a consulta ilegal. Os critérios para a punição, no entanto, são desconheci­dos.

Os trabalhado­res da imprensa também denunciara­m ameaças do número dois do chavismo, Diosdado Cabello, que acusou os jornalista­s de serem cúmplices na explosão de uma bomba que feriu sete militares na segunda (10).

Outro integrante da cúpula governista, o vice-presidente Tareck El Aissami, ameaçou enviar a cortes militares e aplicar penas de até dez anos de prisão àqueles que tentem impedir a eleição para a Assembleia Constituin­te, no dia 30.

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