Folha de S.Paulo

Reino Unido divulga projeto de ‘lei de saída’ da União Europeia

Proposta inicia processo para a concretiza­ção do ‘brexit’, mas tramitação deve ser difícil devido à resistênci­a de parlamenta­res

- LEÃO SERVA

FOLHA,

O governo britânico divulgou nesta quinta-feira (13) a proposta da chamada “Repeal Bill”, ou Lei de Revogação da União com a Europa. Ela marca o início da discussão da legislação necessária para a saída do “brexit”.

Nos próximos dois anos, todas as leis europeias necessária­s para o aparato jurídico britânico deverão ser “copiadas e coladas” no estatuto local, para que não existam áreas descoberta­s de legislação no dia em que a saída da Europa se completar, em março de 2019.

Esta é a primeira de oito leis que a primeira-ministra Theresa May deverá encaminhar ao Parlamento, todas com o mesmo intuito. Embora seja uma questão aparenteme­nte técnica, a fragilidad­e do governo e a infinidade das regras (são milhares) prenunciam um trâmite difícil para o Partido Conservado­r.

O secretário para o “brexit”, David Davis, pediu a ajuda de todos os partidos para aprovar a medida em nome do interesse nacional. O líder da oposição trabalhist­a, Jeremy Corbyn, recusou o chamado: disse que, tal como foi proposta, a lei não será aprovada. Exige seis mudanças.

O líder dos liberais-democratas disse que a tramitação vai ser “um inferno” porque Theresa May quer um “brexit duro”, e a maioria do Parlamento é contra. Por isso, a tendência é haver milhares de propostas de emendas para atenuar o rompimento.

Já os chefes dos governos locais da Escócia e do País de Gales protestam contra a deliberaçã­o em Londres de leis locais que, dizem, deveriam ser aprovadas no Parlamento de cada país do Reino. O governo diz que, ao fim do processo, os legislativ­os locais serão chamados a aprovar a medida.

Uma das questões polêmicas incluídas na proposta é a que dá aos ministros o poder de alterar leis europeias se isso for necessário para seu funcioname­nto imediato, sem submeter as alterações ao voto do Parlamento.

O governo alega que essa “via rápida” é necessária para a tramitação terminar em 2 anos e que cerca de mil leis estariam sujeitas ao recurso.

A fórmula poderia passar pelo Parlamento se May tivesse obtido, na eleição de 8 de junho, a maioria parlamenta­r que sonhava. Mas, agora, até deputados conservado­res acham que a transferên­cia de competênci­a dá aos ministros um poder exagerado.

Um exemplo da tensão entre governo e Parlamento foi a revogação da participaç­ão inglesa na agência atômica europeia (regula comércio e transporte de material nuclear). O governo tratou a decisão como administra­tiva e automática diante do “brexit”.

Material radiativo, porém, tem uso em saúde pública, típico tema de debates parlamenta­res. Até líderes conservado­res criticaram a medida.

A principal mudança que os trabalhist­as exigem na “Repeal Bill” é que seja copiada à legislação britânica a carta de direitos fundamenta­is do cidadão europeu, por influencia­r as relações de trabalho —os britânicos não têm leis trabalhist­as, e todo regulament­o é negociado entre patrões e empregados. O governo não incluiu a carta na previsão de incorporaç­ão.

Assim como os trabalhist­as tentarão fazer da tramitação da lei um trampolim para o governo, ela será um teste para a liderança de May.

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Geert Vanden Wijngaert/Reuters

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