Crise política pesa, e FMI reduz para 1,3% alta do PIB de 2018
Estimativa para economia brasileira é mais pessimista que a do governo Temer e de economistas do mercado
Crescimento apoiado principalmente na agricultura e nas exportações também preocupa o Fundo
O FMI (Fundo Monetário Internacional) reduziu a estimativa para o crescimento do PIB do Brasil em 2018, de 1,7% para 1,3%, e subiu levemente a expansão esperada para este ano, de 0,2% para 0,3%.
Para o Fundo, indicadores recentes sugerem que a economia brasileira se aproxima de um ponto de virada, o que coloca a profunda recessão aparentemente perto do fim.
Os efeitos da crise política sobre os investimentos privados explicam o maior pessimismo para 2018 em relação ao cenário traçado em abril.
Um primeiro trimestre mais forte do que o esperado justificou a leve melhora para a projeção deste ano.
Mas o crescimento muito concentrado em agricultura e exportações indica que há muito a fazer para a economia se recuperar com mais força, em especial com relação ao consumo e ao investimento.
A nova projeção aproxima o FMI da expectativa do governo para o PIB deste ano (de 0,5%), mas o coloca mais distante dos 2,5% esperados para o ano que vem.
No Boletim Focus, do Banco Central, economistas esperam alta de 0,34% para o PIB de 2017 e de 2% em 2018.
Para o FMI, a elevação da incerteza política lança dúvidas sobre o futuro do país.
O crescimento no médio prazo não deve passar de 2%.
A baixa inflação, no entanto, é um ponto forte e abre espaço para que a taxa Selic continue em queda. Para 2017, a projeção é que o IPCA fique em 4%.
Além da inflação, o deficit externo sob controle, o câmbio flutuante e sua capacidade de absorver choques, assim como o alto volume de reservas, são pontos positivos da economia brasileira.
A expectativa é de um deficit em conta-corrente de 2% do PIB neste ano, financiado integralmente pelo investimento externo no país.
O cenário do FMI leva em consideração que a reforma da Previdência seja aprovada. Os riscos de isso não ocorrer, porém, cresceram.
Para os diretores do Fundo, o principal risco político é que a reforma da Previdência termine muito diluída ou adiada para o próximo governo.
O quadro provocaria elevação de juro, depreciação cambial e mudança na política monetária, com impactos deletérios sobre o crescimento.
Para o órgão, respeitado o teto estabelecido para os gastos públicos, a expectativa é que a dívida pública chegue ao auge em 2022 ou 2023 e comece a cair apenas em 2024.
No pico, ela chegará a 93% do PIB, segundo metodologia do FMI, que difere da adotada pelo governo local e deixa a dívida um pouco mais alta.
Do lado externo, os temores são principalmente uma redução da liquidez global e, com menor probabilidade de ocorrer, uma desaceleração mais forte da China.
A corrupção é vista como o “grande elefante na sala” e deve seguir sendo combatida com regras mais firmes de governança e de troca de informações entre autoridades brasileiras e de outros países. VINICIUS TORRES FREIRE O colunista está em férias